Will 08/09/2022
Se estiver pensando em ler este livro, desista. Se já tiver adquirido ou então tenha sido um presente, tranque numa gaveta e finja que nunca aconteceu. Eu pensava que livros amaldiçoados tinham caveiras, nomes ininteligíveis e as cores do Flamengo, mas me enganei. O mal se esconde em capas sóbrias e sem brilho.
É difícil começar essa análise sem inundar o leitor com uma torrente de lamúrias sobre a forma como essa coletânea de crônicas e outros textos acabou afetando minha vida e está me levando por um caminho sem volta rumo á completa ruína. Prefiro nem citar o belo nome composto do autor porque sinto como se estivesse invocando forças irônicas extraterrenas obscuras com as quais não gostaria de ter me envolvido.
Quando iniciei o livro, parecia uma leitura agradável comum. Contos e crônicas muito bem escritos, uma bela variação de temas e formatos, um humor bem refinado e amplo em alvos e disposição. O tempo passava rapidamente imerso nas infinitas possibilidades, maravilhado com o poder do autor em usar de sua amplitude literária, trazendo um vasto volume de temas e histórias. Mas os problemas não vieram durante a leitura, as coisas ficaram estranhas assim que fechei o livro.
Ao mesmo tempo que a leitura avançava, os dias passavam rapidamente e eu comecei a perceber as mudanças no meu jeito. A argúcia ao analisar os acontecimentos mais insignificantes do dia, a ironia que inundava meus pensamentos e o deboche presente sempre que resolvia dar vazão aos meus pensamentos por meio das palavras.
Num primeiro momento, me pareceu algo positivo. As pessoas espirituosas tendem a ter um destaque especial e sempre atraírem a atenção e os cochichos de todos os seres humanos, seja de forma positiva ou negativa, e eu pensei que um pouco de atenção seria uma boa. Mas os novos poderes não pararam na visão privilegiada da humanidade e sua intrincada rede de interações sociais.
Os acontecimentos mais insignificantes ganharam grandes proporções. Uma simples ligação de um cliente durante meu rotineiro cochilo após o almoço despertou uma fúria violenta que felizmente mantive nos meus nem tão secretos pensamentos, onde criei uma análise sobre como senhores aposentados da alta sociedade são os seres mais apressados de toda a longa existência humana, provavelmente fruto da questionável lei de filas preferenciais, lei que todos que reclamam apenas sonham em usufruir.
Percebi que precisava de ajuda quando passei um considerável tempo olhando pro nada filosofando sobre a ambígua existência da galinha, um ser neurótico que gera uma das sete maravilhas sóbrias do mundo: o ovo. Sinto que não li as crônicas de L.F.V (o máximo que consigo são as iniciais, gaguejando e suando frio!). É o livro que está lendo e reescrevendo minha essência. Não aguento mais essa carga de ironia mental, preciso descarregar. Vou procurar um advogado. Adeus!
Escrevi essa pobre imitação de crônica apenas como forma de entregar um pouco do espírito que a bela escrita e ampla obra de Luis Fernando Verissimo me trouxe com essa bela leitura. Uma compilação extremamente leve, deliciosa de acompanhar.
Temos o humor refinadíssimo e de ótimo gosto do meu compatriota colorado que todos conhecem, mas também textos de outras áreas, mostrando a abrangência de seu talento. Ótimo livro, tanto para leitura única ou como um acompanhamento de outro livro para descontrair.