Camila1856 29/05/2024
Fatia da Segunda Guerra pouco conhecida e chocante..
O livro, em 3a pessoa em duas linhas temporais, narra a história de Hana, no ano de 1943 e de sua irmã mais nova Emiko em 2011.
As duas foram separadas em 1943, durante a ocupação japonesa da Coreia em meio à Segunda Guerra Mundial, quando Hana, aos 16 anos, uma Haenyeo (mulher do mar - mergulhadoras que pescavam frutos do mar com o ar dos próprios pulmões e que existem até hoje na Coreia) foi levada por um soldado japonês no lugar de Emiko. Na época, meninas e jovens mulheres desapareciam frequentemente de suas casas na Coreia, China, Filipinas e outros lugares para servirem de "mulheres de consolo" em bordéis militares japoneses. Hana foi uma delas. No caminho já foi "iniciada" pelo seu sequestrador, o soldado Morimoto, e foi levada à Manchúria viver em um bordel com outras meninas. Lá, Hana tinha sua própria "cela" e "atendia" sexualmente dezenas de soldados diariamente. Só existia um dia de descanso, a alimentação era escassa e as explorações e agressões eram constantes. Meninas e jovens morriam todos os dias, de doenças, agredidas, grávidas, no parto. Na outra linha do tempo, Emiko, já com 77 anos, ainda morando na ilha de Jeju e sendo Haenyeo como sua mãe e irmã, viaja à Seul para encontrar seus filhos e participar pela 3a vez da manifestação que acontecia todos os anos na cidade em homenagem às vítimas de exploração sexual durante a ocupação japonesa. Todos os anos ela participava do evento na tentativa de encontrar sua irmã, há décadas desaparecida, a qual nunca voltou pra casa após o seu sequestro. Emiko se sentia culpada pois Hana se entregou em seu lugar ao soldado japonês, afinal, Emiko só tinha 9 anos à época. Aos 14, Emiko foi forçada a casar com um policial e teve seus 2 filhos, um menino e uma menina, dentro de um relacionamento totalmente sem amor. Seu marido foi o responsável por entregar sua mãe à morte por acreditar que era "vermelha" (nome dado aos comunistas da época), o que não era verdade e Emiko jamais pôde perdoá-lo por isso e viveu toda a vida sem mal olhar nos olhos do marido e com pouco afeto com os filhos, por mais que os amasse muito.
Após meses de seu sequestro, o soldado Morimoto propõe a Hana uma fuga, em que os dois viveriam como marido e mulher. Hana detestava a ideia, uma vez que o soldado era o responsável por toda a tragédia que estava vivendo. Mesmo assim, ela aceita parcialmente a proposta, engana Morimoto e foge do bordel, mas é encontrada por ele dias depois ferida e desnutrida no campos. Ele a leva à Mongólia no acampamento de uma família gentil que cuida de Hana até que Morimoto volte para buscá-la. Quando isso acontece, Hana entra em desespero pois não quer ir embora com Morimoto e tenta matá-lo, mas é impedida por Altan, o garoto mongol do acampamento que se afoeiçoa por ela. Na manhã seguinte, Altan foge com Hana para a livrar de seu destino com o soldado, mas são alcançados por Morimoto em seguida. Altan é obrigado a voltar pra casa e Hana segue com Morimoto, quando são surpreendidos por uma tropa soviética que captura Morimoto e leva Hana novamente como prisioneira. Os soviéticos matam Morimoto e quase matam Hana, que é salva pelos mongóis. Hana ao acampamento e passa a viver com eles pelo resto da vida, uma vez que sabia que não poderiam voltar pra casa. Era muito perigoso, a Coreia ainda estava ocupada e ela poderia ser sequestrada novamente.
Enquanto isso, na linha do tempo de Emiko em Seul, durante a manifestação, é inaugurada uma estátua em homenagem às mulheres de consolo e Emi tem certeza que a mulher da estátua é Hana. Nesse momento, Emiko está em seus momentos finais de vida pois descobre que está com um problema cardíaco grave. É no hospital que Emiko conta sua história pela primeira vez aos filhos, confessa seus sentimentos de culpa, explica o que o marido fez a ela, conta sobre a existência e o desaparecimento de Hana. E assim o livro termina, com Hana representando todas as mulheres que desapareceram na época, sobrevivendo a todas as atrocidades e tendo seu "final feliz" vivendo livre com os mongóis. Já Emiko finalmente se liberta de todos os segredos, encontra sua irmã (mesmo que em forma de estátua) e descobre algumas informações do que aconteceu com Hana e, assim, parte em paz.
A história, chocante e comovente do início ao fim, dá voz a essas mulheres por muito tempo caladas, traz luz à essa fatia da Segunda Guerra que pouco é comentada. Mostra a força do amor entre duas irmãs e como resistir a obstáculos horríveis através dele. Mostra a força e importância das tradições asiáticas para aquele povo e nos faz refletir sobre como sabemos tão pouco sobre tanto sofrimento acometido a centenas de milhares de pessoas naquela Guerra. O Japão nunca reconheceu sua culpa publicamente pelas atrocidades cometidas às mulheres de consolo e estima-se que 200 mil mulheres foram submetidas à exploração.