ludwig2 05/06/2024
Cartas, anões, curingas, e bebidas duvidosas
Reli esse livro depois de ter lido ele quando pré-adolescente. Na época, era um dos meus favoritos. Hoje, perdeu o encanto.
Hans Thomas, nosso personagem principal, uma criança de cerca de 12 anos, vai numa viagem de carro com seu pai em direção à Grécia, para encontrar sua mãe, que há 8 anos mudou-se para lá. Os motivos desse ?abandono? não ficam muito claros: ela estaria procurando a si mesma, em outro país.
O livro é cheio de questionamentos existenciais, do tipo que um garoto de 12 anos pode ter conversando com seu pai metido a filósofo: de onde viemos? Por que existimos? Para onde vamos? Fomos criados, ou imaginados, por algum Deus? Porém, as questões filosóficas se esgotam aí, e se encerram na constatação incrível da maravilha que é estar vivo e existir nesse planeta. Ver os bichos? as pessoas? coisas assim. E permitir-se surpreender por isso, pela beleza louca que é estar vivo, um sentimento de surpresa e alegria maravilhada que todos acabam esquecendo ao longo da vida, por causa da rotina e da adultez. É necessário um ?curinga? para lembrar as pessoas, de vez em quando, de quão incrível é viver nesse planeta.
Existe um livro dentro do livro, e a história poderia ficar um pouco confusa, mas o autor insiste em repetir, constantemente, os últimos acontecimentos, recapitulando-os, o que, se por um lado torna o livro mais longo e um pouco mais cansativo, por outro ajuda a organizar a sequência de eventos para o leitor, que está imerso nessa maluquice fantástica, transgeracional, que o autor inventou.
Uma interpretação do livro, para além da fantasia, é pensar a história como fruto da imaginação de um menino, que tenta explicar para si mesmo mistérios que não compreende: a separação dos pais, o destino de seu avô, e a sua própria condição de ser humano, vivo, existente num planeta também cheio de vida no universo infinito.