O Gigante O

O Gigante O'Brien Hilary Mantel




Resenhas - O Gigante O'Brien


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Paula H. 14/12/2015

Uma narrativa sútil numa história forte
Antes de qualquer coisa, tenho que deixar claro que este é um livro forte. Tanto pelo drama sútil no decorrer da obra, quanto por cenas que podem perturbar um pouquinho. Evitarei nomes para não dar spoilers, mas um exemplo seria de dado personagem que imagina o outro rapaz tendo relações com a mulher morta. Nem todos conseguem ler um livro assim, então, estão avisados.

Embora tenha uma leitura até que rápida, traz umas questões a serem pensadas, principalmente pela época a qual a história se passa. Duas coisas que, particularmente, me interessaram e me fizeram ler até o final: o gigante O’Brien, e a questão do furto de cadáveres. Na época em que a história se passa, o uso de cadáveres para estudo não era algo bem visto pela sociedade, de modo que os estudiosos e médicos furtavam cadáveres para continuar seus estudos sobre o corpo humano. Há algumas demonstrações breves de como seria o estudo deles, sendo uma delas na qual um dos personagens acaba adquirindo uma doença, a sífilis.

Tal como no título, o protagonista é o gigante O’Brien, uma pessoa que parece calma e observadora. Percebi certa sutileza ao descrever as ações de O’Brien, demonstrando a natureza deste e como encarava o mundo. A história do Gigante tem início quando ele e seu grupo de amigos decidem sair de onde moram e ir em busca de melhores condições de vida, sendo que, para isso, o gigante chama um “agente” – ou empresário –, que garantiria sua fama. A história tem seus altos e baixos, e, a meu ver, os personagens são retratados com uma realidade curiosa, mostrando a ganância e ignorância das pessoas.

“Claffey tinha suas partes ruins: mas os homens não são como batatas, em que a podridão toma tudo [...]” (p. 10).

A obra começa com uma narrativa interessante, porém pode-se perceber uma escrita como que de flashes, de vários momentos cortados. Por vezes muda o narrador dentro de um mesmo capítulo, o que exige uma leitura mais cuidadosa. Em dado momento fiquei com dúvida de quem se estava falando, pois não há algo que indique isso claramente. Além disso, a narrativa alterna entre O’Brien e John Hunter – um estudioso que compra espécimes para estudo. Contudo, enquanto narra um espaço curto de tempo da vida de O’Brien, chega a contar quase a vida toda de John Hunter, desde como era sua infância, algumas de suas experiência de trabalho e seu (desagradável) casamento. As duas histórias começam totalmente separadas e, como eu li a orelha do livro, parecia que estava demorando demais para que as histórias dos dois personagens viessem a se encontrar. E a forma como a autora aborda isso chega a ser sútil, quase como se esse não fosse o clímax da obra. Aliás, a narrativa é tão fluída e sútil que não parece haver um “ápice”. A história segue normalmente, e apenas o teor dos acontecimentos faz com que se perceba todo o drama dos personagens.

É interessante como o foco da narrativa muda constantemente. No decorrer da história, por exemplo, quando se estabelecem em dado local, os amigos do gigante saem para se divertir e explorar a cidade, deixando o gigante sozinho, visto que ele não poderia sair, para que as pessoas não o vissem sem pagar por isso. Isso é, o grupo de “amigos” de O’Brien começa a ganhar certo espaço no enredo e uma importância que passou quase que despercebida por mim, pois eu li apenas interessada na história do gigante.

Um dos pontos que considerei intrigante na obra é que, em dado momento, parece que O’Brien deixa de ser tratado como uma pessoa, como se fosse apenas um objeto falante que rende dinheiro. O que me remeteu ao termo reificação, que é, mais ou menos, não levar em conta o caráter humano, tratando as pessoas como meros objetos que podem facilmente ser substituídos.

Por fim, não posso deixar de mencionar a relevância que os cadáveres e o furto destes recebem na história. Há todo um método por trás desse furto, o que chega a ser bem interessante, e um pouquinho assustador – afinal, isso aconteceu e ainda acontece (certo?). E, falando de cadáveres, há menção sobre pessoas enterradas vivas. Meio assustador pensar nessa situação, e também por esse motivo eu digo que é um livro fortinho.

Bom, essa é a minha visão de “O Gigante O’Brien”, sendo um livro que recomendo tanto pelas questões que o perpassam, quanto pela diferente narrativa de Mantel.

site: www.eucurtoliteratura.com
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