Euarzc 23/05/2024
Pena que é filho único
Que perfeição! Esse livro me prendeu do início ao fim, não tive nenhum momento que li sem estar com a curiosidade atiçada.
No início do livro, quando o Sr. Lockwood entra em Wuthering Heights, somos apresentados à família cheia de mistérios que reside lá. Já nessa apresentação eu senti vontade de sentar naquelas poltronas e desvendar o que aquela gente tão incomum tinha.
Esse livro misturou dois aspectos que sempre me atraem nos enredos - e que parecem, à primeira vista, inconciliáveis: uma atmosfera cotidiana e personagens intensos.
A atmosfera cotidiana nos leva a acompanhar o desenvolvimento dos personagens, não nos contando apenas os eventos mais importantes, mas nos convidando a tomar um chá da tarde num dia comum dentro da história. Essa atmosfera de conforto na obra tornou a minha leitura mais tranquila, sem picos de adrenalina que depois acabariam e deixariam a história "chata".
Os personagens intensos trazem um tempero incrível à história, ainda mais pelo fato de não serem apenas intensos, mas por serem complexos e terem, cada um, uma personalidade distinta e moldada pelas suas tendências naturais e pelo ambiente em que são criados.
A autora uniu esses pontos e fez a mistura perfeita, pois, nos levando a acompanhar o dia-a-dia dos personagens, conseguimos compreender suas aspirações e motivações. A construção dos personagens é um grande trunfo desta obra, ainda que sejam, na visão de muitos, todos - ou quase todos - pessoas terríveis, vemos neles pessoas reais, que mudam sempre e têm atos bons e maus.
Vi muitos comentários sobre a péssima índole de vários personagens desse livro, e não posso discordar deles nisso, mas, pelo menos pra mim, isso só deixa a história mais interessante e profunda, porque vemos o que leva os personagens a serem daquele jeito, o que, de relance, justificaria suas ações, mas também vemos as consequências dessas maldades e como alguns personagens decidem não mudar, e isso é incrível! Esse livro descreve a vileza com tanta perfeição que eu tive medo de personagens que não eram nada mais que humanos e que nem podiam me fazer mal já que são apenas fictícios.
Também me impressionou no livro a maneira que ele lida com o sobrenatural, nos levando a uma dúvida que não será exatamente respondida, o que acrescenta ainda mais camadas nessa história tão incrível.
Os narradores alternados também deixaram a escrita bastante rica, quando Nelly faz o seu relato, parece que uma avó está contando uma história a um netinho - quem lê o livro, e as partes narradas por Lockwood me deram a sensação de estar na mente dele, conhecendo este lugar tão novo e estranho como alguém colocado num lugar distante e místico, completamente apartado do resto do mundo.
Esse livro foi uma experiência incrível, a autora se serviu uma sensibilidade tão grande para escrevê-lo que eu tive vontade de aplaudir quando cheguei na última linha. É uma verdadeira lástima que este tenha sido o único romance escrito por Emily Brontë, ela, com certeza, tinha um enorme potencial de produzir outras obras de arte como esta.