Caroline Gurgel 18/07/2017Edição caprichada de um ótimo e significativo contoE. T. A. Hoffmann para mim sempre esteve muito mais ligado à música do que à literatura. Seus contos serviram de base para inúmeras peças musicais, como a Kreisleriana de Schumann, a aclamada ópera Os Contos de Hoffmann, de Jacques Offenbach, sem falar nos ballets Coppélia, de Delibes, e O Quebra-Nozes, de Tchaikovsky. Eu, que já o achava genial, descobri que ele influenciou grandes nomes da literatura como Dickens, Poe, Gógol, Baudelaire, Balzac e Dostoievsky. Quer mais? Crítico musical que era, foi um dos primeiros a reconhecer o talento de Beethoven.
A Janela de Esquina do meu Primo nos traz uma conversa entre o narrador e seu primo, um escritor inválido, que mora em um apartamento com vista para a Gendarmenmarkt, grande (e linda) praça em Berlim. Debruçados sobre tal janela, observando a feira que se desenrola à sua frente, os dois personagens nos descrevem com detalhes o que veem – e o que imaginam.
O resultado é um conto que transporta o leitor para outro século e nos faz enxergar com clareza tudo o que é narrado. Barracas de feira com seus comerciantes e clientes, roupas, as boas e as já puídas, flores, cestos de comida, bolsos de dinheiro, semblantes, gestos e trejeitos e até sentimentos.
O posfácio desta edição, escrito por Marcus Mazzari, nos indica que a história tem caráter autobiográfico. Mazzari diz que essa representação realística da sociedade burguesa moderna feita por Hoffmann já nos deixa muito do que será, décadas depois, o realismo de Balzac e Dickens, por exemplo.
A edição da finada Cosac é, como sempre, um capricho à parte. Lindas ilustrações, ótima tradução, papel com gramatura alta e texto com boa diagramação, tudo isso para um simples e curto – porém significativo – conto. Coisas da Cosac! É um livro para ler “em uma sentada só”, mas que me deixou com vontade de ler toda a obra do autor.
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