Andreia Santana 04/07/2011
Um bom retrato da Geração Y
O jornalista Marcelo Carneiro da Cunha, embora pela idade, pertença à geração dos migrantes digitais, está bastante à vontade em meio aos nativos. Ao menos, a impressão é esta ao ler Super, seu mais recente livro juvenil. Escrito na linguagem rápida e descolada dos hiper-conectados, Super é um divertido panorama da Geração Y e dos conflitos que, com maior ou menor dramaticidade, se instala entre pais na faixa dos 35 aos 40/45 e filhos entre 13 e 16 anos.
O livro conta a história de um adolescente tão genial com computadores quanto Artemis Fowl, personagem da série homônima do irlandês Eoin Colfer. A diferença é que enquanto Fowl é um criminoso herdeiro de um clã de mafiosos, o brasileiro André é só um hacker em busca de diversão. Ele e sua turma invadem sistemas como uma forma de protesto, para assinalar com suas bandeirinhas que não fazem parte do “Sistema”.
Tudo vai bem nesse mundo digi (de digital) de André, com desafios entre grupos hackers mundo afora, até o surgimento de um ciber-policial igualmente fera em computadores e que adota métodos nada ortodoxos de combate ao ciber-crime...
Recheado de referências da cultura pop e ciberpunk, além de citações incríveis a Matrix, André é fã de Neuromancer, o livro ícone de William Gibson, Super, no entanto, não trata a questão da segurança virtual de forma leviana. Sem ser moralista e sem passar sermão na "galera", o autor mostra as diferenças entre criminosos digitais e garotos espertos. E de forma leve, conscientiza sobre as consequências de cada ato. Invadir sistemas - mesmo quando não se pretende roubar nada - é um ato ilegal e como tal, gera uma punição e desencadeia uma série de acontecimentos imprevisíveis. De certa forma, a obra fala sobre maturidade, sobre ser capaz de responder pelos próprios atos.
De maneira muito consciente, Marcelo Carneiro da Cunha faz uma leitura crítica dos preconceitos dos adultos que acham que os filhos vão encontrar um pedófilo em cada esquina da web e acreditam que proibindo o acesso estarão protegendo as crias, mas também não alivia para o lado dos pais indiferentes e indolentes, que sequer sabem o que os filhos fazem na rede, sequer sabem também o que fazem fora dela. Tampouco passa a mão na cabeça da moçada que pratica ciberbullying, muitas vezes para chamar a atenção dessas famílias indiferentes e omissas.
O desconforto de André no mundo log (de analógico) rende as sacadas mais irônicas e engraçadas da obra e de certa forma, mostra que, de um jeito ou de outro, sentir-se inadequado é um dos ritos de passagem da adolescência. Permeando toda a saladinha digital muito bem temperada pelo escritor, há ainda uma linda história de amor e um final daqueles de virada, para leitores que gostam de um mistério para solucionar.
Recomendo!