Hannah Green 14/05/2024
Ela não tem amigas?
A história é incrivelmente boa. O enredo, as escolhas para explicar o fim do mundo como nós conhecemos, a ideia de abordar questões de estética foi sagaz, os personagens são cativantes, os que temos que amar, nós amamos, o que temos que odiar, nós odiamos, os que temos que ter pena, nós temos. Realmente um belo trabalho literário.
Confesso que é casa vez mais difícil ficar contra a cidade, porque sinceramente, os seres humanos deveriam todos implodir, mas tudo bem.
Contudo, eu tenho uma crítica ao livro como um todo: a ausência de amizades femininas, a personagem Tally é envolta apenas de homens, onde quer que ela vá, e todas as outras mulheres que aparecem na história de alguma forma viram suas inimigas, seja por inveja, raiva, vingança, sentimento de abandono, ciúmes, todos os sentimentos possíveis afastam Tally Youngblood de qualquer relação boa com mulheres, como normalmente são os livros de protagonistas femininas escritos por homens. É interessante notar como na cabeça masculina, o estereótipo "pick me girl" é forte, e eu me pergunto, se é essa a visão de mundo que eles tem, porque simplesmente não escrevem logo um livro com um homem como protagonista?
Enfim, vou dar um desconto pelo fato do livro ter sido escrito em 2005, e na época não termos nem metade das discussões que temos hoje. Aproveito e deixo aqui o recado para futuros escritores homens, se vocês vão criar uma personagem feminina que não tem família importante, nenhuma amizade considerável que não seja um homem, e que para onde ela vai sempre se envolve numa trama de rivalidade feminina, por favor, não crie. Faça um personagem masculino que só tem mulheres na vida dele, e que ele briga com todos os homens do planeta, e não consegue estabelecer relações com nenhum deles, só para variar, sabe?
Ps: Ansiosa para ler o final dessa história, e torcendo para a Netflix não abandonar o projeto de fazer um filme.