Alan 01/06/2024
Cresce, seara vermelha, cresce, cresce, vingança feroz
O livro conta a história da família de Jerônimo e Jucundina, sertanejos trabalhadores em uma das muitas fazendas espalhadas pelo interior do nordeste. Viviam naquelas terras de favor, trabalhando como meeiros, vivendo em casas precárias e submetidas a um capataz e às regras internas da propriedade, entre elas, por exemplo, vender exclusivamente para o proprietário e comprar apenas os produtos do armazém da fazenda (uma forma de exploração do trabalho que não é difícil de ser encontrada ainda hoje no Brasil). Após a venda da propriedade, como muitos naquela região do interior nordestino, a família se vê expulsa da fazenda e obrigada a marchar caatinga adentro rumo ao litoral, onde poderiam pegar navio e trem, as conduções necessárias rumo às promessas de fartura e riqueza das fazendas do Estado de São Paulo.
A partir daí Jorge Amado conduz o leitor por um caminho de tristeza, fome (muita fome), doenças e morte (muitas mortes), de maneira que me acompanharam muito, durante a leitura, as pinturas de Portinari em sua coleção sobre os migrantes e flagelados nordestinos (algumas da mesma época da publicação de Seara Vermelha). Uma leitura bastante crua que Jorge Amado faz do contexto migratório que levou uma enxurrada de gente para São Paulo nas décadas de 1930 e 1940.
Da família de Jucundina, três de seus filhos - Zé, Jão e Nenen -, que desertaram ainda novos, se tornam personagens principais da segunda parte do romance, momento em que o autor entrelaça temas caros à história brasileira como o cangaço, os movimentos religiosos populares tidos como “messiânicos” e a organização e formação dos movimentos comunistas e do próprio Partido Camunista, fazendo menções importantes a personagens como Lampião, Antônio Conselheiro e Luís Carlos Prestes.
É um bom livro. Não é dos melhores que li de Jorge Amado, mas segue como uma narrativa muito interessante, principalmente do ponto de vista histórico.