spoiler visualizarThais 26/11/2021
O Menino do Pijama Listrado
O livro narra a história de um garoto chamado Bruno, filho de um dos oficiais nazistas do alto escalão do exército, que por conta do trabalho de seu pai é forçado a se mudar com sua família para um lugar isolado. Um pouco depois, ele encontra um local que acredita ser uma fazenda, mas que na verdade era um campo de concentração e, ironicamente, ele se mostra totalmente leigo no que diz respeito ao que isso quer dizer.
A obra de John Boyne, não deixa totalmente claro a qual dos campos de concentração se refere, mas conseguimos ter uma ideia de que se trata do Campo de Auschwitz quando Bruno e Gretel, sua irmã, acabam lendo a palavra "Out-With", ou seja, uma forma errônea de se dizer Auschwitz, o que não é, necessariamente, levado em conta pois ambos são apenas crianças, mas faz uma clara alusão ao campo citado. O personagem que dá nome a obra, Shmuel, funciona mais como uma "âncora" para causar algum sentimento no leitor sobre o que era para ser, incialmente, tratado durante o enredo do livro, mas nosso menino do pijama listrado não teve sequer um desenvolvimento e nós só temos contato com o garoto no capitulo 17, que foi mantido no preto e branco. Sem nenhuma personalidade ou algo que fizesse com que o leitor se conectasse de fato com ele, assim Shmuel poderia ser facilmente resumido a sua única característica: ser uma criança judeia em um campo de concentração.
Em certo ponto da história o pai de Shmuel some e ele resolve tentar descobrir onde o homem está e para isso faz um acordo com Bruno, que teria que se vestir como um prisioneiro (para se infiltrar), entrar no campo e o ajudar a achar o pai. Apesar de sabermos que ele foi assassinado em uma câmara de gás, nenhum dos dois chegou a pensar nisso, sendo, novamente, irônico. Bruno fez conforme tinham planejado e no fim de tudo os dois também são mandados para uma câmara de gás e morrem. A partir dali a história foca no desespero da família de Bruno para o acharem e a dor de quando percebem o que aconteceu o sentimento de culpa, a raiva e a tristeza também são bem ressaltados.
O principal problema do livro é: a história sobre o holocausto, sendo narrada TOTALMENTE pelo ponto de vista de uma criança nazista.
Mas esse, apesar de grande, não é o único problema da obra que merece destaque, vamos lá.
Mesmo sendo filho de um soldado nazista de alto escalão, Bruno é completamente leigo e tapado para o que está acontecendo a sua volta: não sabe da guerra, quem é Hitler (o que é um grande furo, pois Hitler e Eva, sua esposa, tenham ido jantar na casa dele) ou do que o Nazismo é. Apesar de já ter visto algumas pessoas dizerem que podia ser a forma que sua família encontrou de o preservar, isso seria impossível e um impossível previsto em lei: Bruno deveria fazer parte da Juventude Hitlerista, ou seja, seria obrigado a frequentar uma escola alemã onde o ensinariam sobre o Nazismo, propagariam o antissemismo em cada mínima partícula de tempo e colocariam a guerra como grande motivo de orgulho.
Agora vamos falar de Shmuel: ele não devia estar no campo de concentração. Crianças eram vistas como fracas e ineptas ao trabalho então só tinham dois caminhos a seguir: ou eram mandadas para a câmara de gás assim que chegavam ao campo, ou eram pegas para experimentos em humanos, que aconteciam longe dos campos centrais. Se Shmuel fosse um dos escolhidos para trabalho escravo, não teria tempo para jogar xadrez com um menino nazista ao lado da cerca de um campo de concentração. É inviável.
Por fim, mas não menos importante, o livro cria uma carga emotiva muito maior com a família de Bruno do que com Shmuel e com a morte de milhões de pessoas no holocausto. Em alguns momentos chegamos a sentir piedade da família de um nazista, já que Boyne nos fez simpatizar com o sofrimento que foi aplicado a eles só para fazer jus ao ditado popular: "Você colhe, aquilo que planta".