Virginia 26/12/2022
A ânsia de amar e de ser amado
O outono finalmente chegou e com ele vem o frio e a calçada coberta com as folhas caídas. De forma a entrar no espírito, decidi ler a trilogia Os lobos de Mercy Falls de Maggie Stiefavter.
Mercy Falls é uma cidadezinha no Minnesota (EUA), perto da fronteira com o Canadá. Como em todas as cidadezinhas esquecidas por esse mundo, a vida em Mercy Falls é pacata, leia-se monótona. Mas, como todas as cidadezinhas, Mercy Falls tem os seus segredos: na sua floresta vive uma alcateia de lobisomens que vão alterando a sua forma conforma as estações. O livro é narrado pelos dois protagonistas, Grace e Sam.
Em pequena, Grace foi vítima dos lobos de Mercy Falls. No entanto, a rapariga nunca se transformou e, em vez de ficar assustada com os animais, esta começou a admirá-los - especialmente, o lobo de olhos amarelos que a salvou. Grace é uma rapariga de espírito prático e metódico. Ela odeia a pacatez da cidade e mal pode esperar para abrir as suas asas e conhecer o mundo. Contudo, ela não se quer separar do seu lobo de olhos amarelos.
Sam é o lobo de olhos amarelos que salvou Grace naquele fatídico dia. No verão, ele assume a sua forma humana; no inverno, ele está de volta à floresta como lobo. Ao contrário de Grace, Sam possui um espírito romântico e melancólico. Também ele tem sonhos para lá de Mercy Falls, mas sabe que jamais os poderá realizar - a vida de um lobisomem tem um prazo antes que a floresta o reclame para sempre e o prazo de Sam está prestes a esgotar-se.
Shiver - um amor impossível fala-nos sobre esse amor entre os dois protagonistas, sobre as suas dificuldades, os seus obstáculos, mas sobretudo sobre a sua impossibilidade. Através da sua escrita poética e lírica, Stiefvater apresenta-nos uma história de amor com umas pinceladas do sobrenatural. Desde a primeira até à última página, há um prevalecer do sentimento de melancolia: afinal, os dias de Sam enquanto humano estão contados. É um romance muito bem trabalhado que explora todos os ângulos do amor, da ânsia de amar alguém e de ser amado. Foi-me fisicamente impossível largar o livro, mesmo para as mundanas pausas. Foi um dos primeiros livros que Stiefvater escreveu e realmente nota-se uma pequena falta de coesão, sobretudo no que toca à parte do sobrenatural que nunca chega a ser verdadeiramente desenvolvida. Porém, isso pouco teve impacto no livro e no enredo em geral, focando-se mais nas suas personagens e nas suas emoções e pensamentos.
Em suma, um ótimo livro para os dias mais frios e lembrete que o amor pode transcender tudo.