O corpo interminável

O corpo interminável Claudia Lage




Resenhas - O corpo interminável


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vitAria 18/03/2024

Eu realmente so tenho elogios
"O Corpo Interminável" foi uma leitura que me interessou pela sinopse e me conquistou ao longo de cada capítulo. Apesar de ter tido dificuldade, a princípio, para me situar na linha do tempo e para entender como os pontos de vistas dos personagens se intercalam; assim que peguei o embalo, a leitura me prendeu cheia de curiosidade.
A construção dos parágrafos, os diálogos implícitos (sem travessão ou aspas) foram uma estratégia de escrita não convencional que me fez refletir muito ao longo da leitura. Tudo tem forma de pensamento, é tudo uma linha de raciocínio tão humana quanto a nossa: eu realmente me senti dentro da mente dos personagens.
Juntar os relatos tão pesados da ditadura, dos corpos de mulheres violadas, de pessoas que viram tudo aquilo e que sentiram essas perdas... tudo isso me comoveu muito e foi o ponto alto que atiçou meu interesse pelo livro.
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Caroline.Jacoud 03/03/2024

Do sem destino
Esse não é um livro fácil, não só pelo conteúdo abordado. mas muito pela maneira que a autora escolhe abordar. exige atenção e entrega. e coragem para continuar a cada página.

nessa história as protagonistas são mulheres, durante e após a ditadura. mulheres marcadas pelas violências, pelo medo, pelo desejo de liberdade, pela determinação em bancar os próprios princípios. como toda história, também conheceremos os coadjuvantes. aqueles que tem suas vidas atravessadas por essas mulheres, ainda que nunca tenham as conhecido.

a autora aborda a complexidade das relações humanas de maneira única, principalmente aquelas marcadas pela perda, quando há uma dor sem destino, quando as memórias do que não se viveu inundam, quando o fantasma do luto não deixa dormir.

mas O corpo interminável também é sobre o amor, sobre encontrar pessoas que entendem alguma coisa sobre seus próprios vazios e decidem diariamente buscar preenchê-los em companhia, sobre não sermos alheios às dores mundo, sobre sentir.

"Nunca me disseram que é na distração que ferimos mais. Que é contra a distração que devemos ficar atentos".
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Lucas 06/02/2024

Alguns escolherem, e ainda escolhem, estar ao lado da barbárie, na porta vizinha. A vida continua, as férias em família, a liberdade. Outros - tantos corpos - caem no buraco sem fim onde Alice questiona: ?a queda não terminaria nunca? As coisas algum dia voltariam ao normal outra vez??.

A narrativa fragmentada é a própria memória em frangalhos de um país que tentou jogar no lixo aquelas caixas empoeiradas que vivem imóveis por décadas em cima de guarda roupas. Em cada página uma dor recente, uma dor do passado, uma dor individual, uma dor coletiva. Uma dor definida. Uma dor indefinida e oculta nas histórias daqueles que, até hoje, vagueiam à espera da sua própria descoberta. Da descoberta do intangível, do que restou.

?Temos ódio e nojo à ditadura!?
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Maria 24/12/2023

Ganhei esse livro justamente pelo meu interesse quase obsessivo por essa fase histórica, ainda assim ficou um ano inteiro na minha estante.
Agora com o fim da leitura e todas as sensações descritas ainda a flor da pele, uma inquietação. Eu vou sair indicando esse livro a quem me der bom dia.
O livro é pessado e nem tem como ser diferente, mas se ainda existir quem desconheça as atrocidades da ditadura militar no Brasil, o corpo interminável é uma forma de recriar, unir pontos e recontar a história sem hesitações. O foco em corpos femininos é instintivo, regressivo e brutalmente doloroso.
Rimylles.Silva 24/12/2023minha estante
Vai para minha lista!




Tuca 14/10/2023

Eu tô atordoada. Eu comecei esse livro atordoada e o terminei do mesmo jeito. “O corpo interminável” é um livro em busca respostas e que representa em todas as possibilidades que ele propõe um retrato fiel da ditadura militar brasileira. A trama principal é a procura de Daniel por entender quem foi sua mãe e o que aconteceu com ela. Em idas à biblioteca, ele compartilha a leitura de um livro, o qual só havia um exemplar, com Melina em momentos diferentes, até que um dia o horário em que os dois chegam para ler coincide, e eles se conhecem. Juntos eles começam a perceber como esse período da história do Brasil estava envolto na vida dos dois. Em Daniel pela ausência dos pais, pelo desaparecimento da mãe, pela ausente presença do avô que o criou; em Melina, pelos pais que escolheram ser alheios, que optaram por não se importar, até que a dor da omissão os alcançasse.

Ao redor do enredo de Daniel, temos as várias possibilidades do que aconteceu com a mãe dele, dos “ses” que poderiam ser também de outras mães de órfãos da ditadura, algumas narrações em fluxo de consciência, algumas alucinações na tortura, algumas vozes mais coerentes, outras menos... não é possível saber qual delas foi ou se alguma delas foi realmente Julia, mãe de Daniel, porque tal qual aconteceu com o protagonista, tal qual aconteceu com a maioria das famílias de vítimas da ditadura militar brasileira, as respostas lhes foram negadas. No entanto, conhecer todos esses “ses” é importante para a nossa memória coletiva enquanto povo. Memória essa que institucionalmente por muitos anos nos foi negada.

A única coisa que Daniel tem que pertenceu a mãe era um antigo livro de “Alice no país das maravilhas”, e o enredo de Alice trazido para as mulheres militantes da história cria metáforas curiosas: o do crescer e do diminuir do corpo, o de cair num buraco e ir parar em outro mundo, o do real e irreal em meio às alucinações da tortura, o do escapismo. O desvendar da história dos pais de Daniel me fez grudar nas páginas desse livro mesmo sabendo que o provável era que ele nunca conseguisse saber realmente o que aconteceu, nem ele nem eu, mas que lembrar e falar sobre as possibilidades de quem eles foram também era importante. Trazer vozes de tantas militantes silenciadas tecendo a trama da vida de Daniel, herança da ausência criada pela ditadura, foi essencial para a coerência da história.

“O corpo interminável” foi o ganhador do prêmio São Paulo de literatura de 2020, e foi escrito por Cláudia Lage, que também é uma das autoras de uma das melhores novelas da TV Globo (na minha opinião, é claro) “Lado a Lado”.




site: IG: https://www.instagram.com/tracinhadelivros/
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Guilherme.Eisfeld 12/05/2023

Enredo necessário com uma narrativa sem fluidez
A narrativa em muitas partes é truncada, com muitas retóricas e pensamentos entre parênteses, o que tira um pouco a fluidez da leitura. Alguns questionamentos das personagens é de certa forma óbvio e repetitivo, como se a capacidade do leitor e da leitora de interpretação fosse menosprezada. O enredo é forte e trágico, de um período histórico brasileiro que precisa ser discutido, porém que pela forma escolhida se torna arrastada.
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Filipe Tasbiat 19/02/2023

Um texto sensível, mas...
Com a temática do trauma da ditadura, "O corpo interminável" é a narrativa de uma cicatriz que provavelmente nunca se fechará, pelo menos para o seu protagonista, Daniel. É um tema necessário, difícil, viscoso, que é trabalhado pela autora com muita sensibilidade. Gostei, particularmente, das escritas sobre as mulheres no cárcere. O último terço do livro é sem dúvida o mais impactante. Apesar desses méritos, não posso dizer que apreciei o livro como um todo. Embora imagine a intenção da autora e suas razões para escrever sob a perspectiva do protagonista Daniel, a personagem mais instigante é a parceira dele, Melina. As escritas sobre a ditadura costumam ser fragmentárias, mas aqui ocorre um problema grave de focalização. Daniel narra intimidades de Melina impossíveis de acreditar que teriam sido contadas por ela. Mesmo se pensarmos que Daniel está escrevendo uma semificção, a forma como é feito tornou a obra um tanto quanto inverossímil pra mim, sobretudo com seus muitíssimos "Melina me fala", "Melina me conta", "Melina uma vez me disse", que parecem ter sido acrescentados de última hora na edição pra tentar corrigir esse problema de focalização. Ora, se a história precisa acessar os sentimentos e a psiquê de Melina, então alguns capítulos deveriam ser focalizados através dela, e não pela voz do Daniel. O resultado é um amálgama estranho no qual os dois personagens principais ficam indefinidos. Ao final do livro, lamento e me sensibilizo pelos traumas deles, mas sem saber até onde acredito nesses personagens. A repetição de vocábulos sinônimos, empregados à exaustão, também me cansou um pouco. Uma ou duas vezes, é ok você empregar várias palavras parecidas para reforçar um sentimento forte, mas o tempo todo, acaba sendo maçante. Apesar disso, acredito que o livro vai agradar leitores que se interessam por escritas da ditadura no Brasil.
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genas 08/01/2023

tiro ao álvaro
"O corpo interminável" apresenta um retrato das mulheres que escolheram lutar pela democracia em um momento crucial da história do Brasil. Ele traz a experiência apagada de mulheres presas políticas sob a ditadura militar no nosso país. Mostra mulheres que estão nas ruas lutando e também estão amando, gestando, parindo seus filhos e incluindo seus corpos e afetos na história. Escrever sobre isso no momento político em que vivemos é um ato de coragem. Temos visto e vivido de perto os efeitos causados pelo apagamento da história no nosso país, então leituras como essa se fazem cada vez mais necessárias.
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Paulo1584 24/12/2022

A mão
duas cenas em especial me impactaram bastante. a da mãe sendo obrigada a deixar a criança na porta para que alguém cuidasse dela, sabendo que talvez (e muito provavelmente) nunca mais poderia vê-la; e a cena em que o leite em pó no cai chão e a mulher tenta pegar de volta, em meio aos cacos de vidro... isso é o desespero.

na ditadura muitas pessoas desapareceram, na verdade foram "desaparecidas", foram torturadas e tiradas de circulação, foram vítimas de muita violência e barbárie.

O corpo interminável é um livro que precisa muito ser lido, hoje mais do que nunca, num tempo onde tem pessoas achando que a ditadura era a "ordem" e o "progresso", era a salvação etc. em tempos de barbárie é preciso relembrar do passado, mesmo que seja dolorido, como esse corpo marcado, esse corpo sumido.

o corpo demanda movimento, isto é, liberdade. uma mão erguida, uma mão enfiada, uma mão passeando, é muito mais bonita e livre que uma mão segurando uma arma.
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Luciano 05/11/2022

Um livro que aborda a violência da ditadura militar brasileira ao mesmo tempo em que discute memória, esquecimento e testemunho.
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Dara 23/06/2022

Não é bem uma resenha
De onde saem tantos canalhas?

O bueiro está aberto e ninguém avisou. Saem ratos. Operação Segurança Presente é inaugurada na cidade. Reforço a polícia militar, eles dizem. Maior segurança à população, eles dizem. Pela primeira vez numa cidade do interior, uma grande vitória, eles dizem. Mais policiais pelas ruas – as ruas dos bairros nobres da cidade, isso eles não dizem. No mesmo dia que fiquei sabendo da engenhosíssima operação implementada me encontrava finalizando um livro. O corpo interminável. A autora faz alusão a queda de Alice ao cair no buraco do coelho – uma queda interminável, descreve a menina. É difícil sintetizar do que o livro trata. Mas, partamos do simples: narra a história de um casal. Um casal que se conhece por lerem o exemplar único de um livro na biblioteca em horários distintos. Um dia, os horários batem. O acaso converge para um encontro que conflui para uma constância de encontros. A obra em questão abordava a respeito da ditadura militar brasileira. A mãe do menino era guerrilheira desaparecida. Os pais da menina não. Como é possível viver um momento histórico sem sentir os efeitos dele? Ela se questionou. Movida a isso decidiu buscar saber sobre o tal momento histórico. A narrativa também traz a tentativa de ficcionalização do que não se sabe bem. Em capítulos alternados conhecemos a mãe do rapaz. Conhecemos a violência da tortura que lhe foi imposta. Mas conhecemos também a violência do silêncio produzido pela dor. Foi um livro que doeu. Terminei pensando que o horror tenha sido exagerado. Um pouco demais, acabei pensando. Como se houvesse um limiar pro horror e pro absurdo até na ficção. Penso agora que todo limiar já foi ultrapassado e só nos resta reagir e gritar. Com esse pensamento, pego o elevador e paro numa padaria. Pão de sal. Mortadela? Assisto um homem alto gritar com uma funcionária. Dedo apontado para cima, no rosto da funcionária que segura o choro e escuta. Ele a acusa de falta de educação. Me pergunto se ele não percebe a falta de educação dele. Olho em volta, as outras funcionárias impávidas. Todas pálidas. Ele quase me agrediu na semana passada. Ela sussurra para mim. Intervenho. Pergunto a moça se ela está bem. Ele se cala. Ele termina de pagar a conta e vai embora. A moça se levanta, pega o copo d’água e começa a chorar antes de se esconder. O que autoriza o grito de uns em detrimento do silêncio de tantos? Penso no valor do gás de cozinha. Penso na rotina de trabalho. Penso que nem a pior falta de educação do mundo justifica uma humilhação. Não existe horror em excesso. O bueiro nunca foi fechado. A cidade foi construída em cima dele.
2022
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Irka Barrios 22/03/2022

"O corpo interminável" é duro, difícil. Nem tanto por conta de seu conteúdo (a narrativa nos traz a situação de diversos corpos violentados pela ditadura militar brasileira), mas também difícil pela forma que a autora escolheu para nos contar a história. As linhas do tempo confundem o leitor, as vozes dos personagens também. Somente mais adiante, com a narrativa avançada, compreendi que não se tratava de vários corpos, mas de um, formado por várias memórias, vários sofrimentos e traumas. O ponto alto é o belo acabamento da linguagem que a autora pratica.
"O corpo interminável" não é um livro para ser lido com pressa. Deve ser relido, seus trechos revisitados, frases sublinhadas, para que o leitor possa desvendar as pequenas conexões presentes.
Alê | @alexandrejjr 03/04/2022minha estante
É um livro exigente mesmo, Irka. Mas, como tu apontasse, a entrega no final vale a pena o esforço.




Jivago 04/11/2021

A forma do trauma
Tematicamente há pouco espaço para inovações relativas a narrativas que representam a ditadura militar brasileira e suas consequências. Desaparecimento de pessoas, as histórias dos desaparecidos, as histórias de busca dos que ficaram, o imediatamente antes e o imediatamente depois da ditadura, assim como o testemunho do período histórico se desenrolando, tudo isso já foi e ainda é matéria para obras sobre o período.

Contudo, o que todas essas linhas temáticas têm em comum é uma espécie de substrato existencial que identifica o éthos narrativo e que aponta, quase sempre, para a sensação de irresolução do trauma. A ditadura parece ter acabado, ao menos oficialmente, mas a disputa em torno de seus acontecimentos, dos fatos, da verdade, nunca se esgota, e aqueles que têm a missão de buscar algum tipo de reparação histórica pelas atrocidades cometidas aos entes queridos, sejam eles familiares ou não, vêem-se sempre numa jornada cruel: não há, nos parece, nenhum amparo institucional, nenhuma predisposição oficial de reconhecimento de condutas, nunca houve de fato um acerto de contas final que julgasse e condenasse responsáveis por um dos períodos mais assombrosos da história do Brasil.

Pelo contrário, à medida que o tempo passa, mais cresce uma mentalidade relativista, negacionista e revisionista da história, sempre impulsionada por aqueles que têm vergonha de terem tomado parte no lado criminoso dessa mancha histórica e preferem resguardar-se na falácia de que agiram pela pátria: e em nome da pátria tudo era permitido, inclusive a destruição de seu próprio povo. Ao contrário do povo alemão no pós-guerra que chegaram a criar e debater conceitos como “culpa retroativa” e “justiça coletiva”, a opção brasileira foi sempre a do abafamento, do silenciamento.

Pensando nisso, é que considero “O corpo interminável” uma feliz inovação de Claudia Lage. As escolhas formais da autora traduzem com precisão esse desamparo histórico sofrido pelas vítimas da barbárie ditatorial. O livro é dividido apenas em partes, e dentro destas temos sempre transições que simulam capítulos: são recortes não nomeados que dificultam, principalmente, a identificação da voz narrativa do momento. E esse artifício, acredito eu, é crucial para veicular a sensação assombrosa de que falamos: quem lê não sabe que tipo de fala vai encontrar, nem o que aquele novo narrador poderá trazer em termos de notícias, revelações, angústias; demoramos a identificar o espaço e o tempo, ao leitor é negado transitar no solo seguro da narração linear, em verdade, a sensação de segurança é suspensa desde a abertura quanto entendemos (apenas supomos) que trata-se de alguém em estado de loucura, cárcere, ou em processo de tortura.

Com esses elementos o livro constitui-se, basicamente, na história de Daniel e Melina, um casal de jovens, tentando montar o quebra-cabeça que lhes indicará as participações de seus pais no período da ditadura. O “corpo interminável” do título é uma brincadeira que joga com a busca dos protagonistas, a busca de Daniel principalmente, tentando conhecer mais de sua mãe, de sua família, através de relatos, cartas, anotações. Há reflexões sobre trauma, memória, laços rompidos, vidas interrompidas, esperanças e incertezas em relação ao futuro, responsabilidades, etc. Todo esse conjunto é amarrado pela dor da perda, pelo abandono, pela noção latente de que a ditadura que assolou o país ainda não foi completamente passada a limpo e, nesse sentido, a narrativa funciona também como um alerta do perigo iminente da repetição de um processo que não se encerrou.
Alê | @alexandrejjr 20/12/2021minha estante
Baita análise, Jivago! Parabéns!




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