Noventa anos após a morte, o funcionário público e escritor Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), permanece atual em sua obra, entre outros motivos porque escreveu muito, e bem, sobre operários e outros personagens do povo. Observou atentamente o que ocorria no Brasil e no exterior desde nossa abolição oficial da escravatura, cujo 13 de maio de 1888 coincidiu com o sétimo aniversário da então criança (leia-se “Maio”, nesta antologia).
A observação atenta acompanhou a vida dos trabalhadores nos primeiros tempos do Brasil sob o regime republicano: “Palavras de um snob anarquista” (publicado originalmente em 1913 n’A voz do trabalhador, jornal da primeira Confederação Operária Brasileira); “Sobre a carestia”; “São Paulo e os estrangeiros”, I e II; “Da minha cela”; “Carta aberta”; “Problema vital”; “Sobre o maximalismo”; “Homem ou boi de canga?”; “Simples reparo”; “A greve da Cantareira”; “Manuel de Oliveira”.
Com tais características, Lima Barreto e sua linguagem posicionam-se em oposição frontal aos poderosos da época, em variadas dimensões: política, social, econômica, cultural. Razão por que a obra de nosso escritor passou décadas marginalizada na cultura brasileira – inclusive na cultura escolar, em que até hoje não tem o devido reconhecimento.