O personagem Juliano Pavollini inicia suas memórias dizendo que tinha tudo para dar certo. E é impossível não concordar com ele. Uma trajetória curta, mas intensa: foge de casa aos dezesseis anos, no dia da morte do pai, e refugia-se nas asas de Isabela, uma mulher que parece a deusa salvadora de sua vida, num bordel da Curitiba dos anos 60. Depois, como que seguindo o roteiro do abandono, envolve-se em assaltos na periferia, sonhando ao mesmo tempo com um futuro tranqüilo, invejando os pequenos prazeres da classe média, que ele vê como modelo. Nesse roteiro que se transforma em tragédia, apaixona-se perdidamente por uma Doroti, saída de algum filme, que Juliano deseja como a redenção de sua vida. É um romance que cativa duplamente o leitor, pelas duas vozes que ressoam na narrativa. O protagonista é tanto o adolescente esmagado pela insegurança, pelo erro e pela culpa de tudo que ele vive, quanto o homem maduro, na cela da prisão, confessando a uma psicóloga a sua história sempre dupla. A sua confissão é também um modo de refazer o passado e de dar um sentido ao futuro; da imagem que ele fizer de si mesmo dependerá, talvez, a sua liberdade.