O trabalho da pesquisa e da escrita da história por um estudioso envolvido cultural e afetivamente com o tema pesquisado torna-se extremamente desafiador e fascinante, embora problemático. Trata-se, segundo o que é aceito atualmente pela teoria e pela metodologia da História, de buscar o equilíbrio entre o sujeito que pesquisa e o objeto pesquisado; buscar o máximo de objetividade, sem desconhecer a presença da subjetividade e a inevitável pressão do universo cultural onde o estudioso se insere; escrever uma História para o esclarecimento da sociedade, sem prescindir do prazer individual que tal experiência produz.
A formação original de Maria Luiza Heine na área de Filosofia, sua incursão pelo campo pedagógico e sua irresistível atração pelo estudo da História levou-a, desde cedo, a recolher dados sobre a História de Ilhéus, a terra de sua família, e à especialização em História Regional, curso concluído na UESC em 1996. Do ponto de vista de sua vocação profissional, portanto, Maria Luiza buscou, talvez inconscientemente, colocar-se no lugar fascinante e ao mesmo tempo complexo do estudioso que procura estudar seu entorno e acaba por estudar a si mesmo. É o que se observa neste trabalho. Não se trata apenas de um estudo sobre Jorge Amado e os coronéis do cacau, mas um estudo da compreensão que a autora elaborou sobre a terra, as figuras e o autor escolhido; um estudo sobre a relação entre pessoas e a terra natal, entre o autor e suas raízes.
Muito apropriadamente, portanto, o objeto do seu estudo é a produção de Jorge Amado sobre a região cacaueira, especialmente o romance Terras do Sem Fim. A relação que o autor escolhido desenvolveu com sua região expressou-se sob a forma literária do romance. Para ele, a tarefa era a criação, a imaginação. A ficção construída a partir de lembranças, experiências, representações de certos tipos e papéis sociais.
Para ela, foi o compromisso de focalizar essa ficção do ponto de vista da metodologia da História e buscar a compreensão do significado assumido pela produção literária na escrita da História.
O resultado desse encontro entre Maria Luiza, a região cacaueira e as obras escolhidas de Jorge Amado estão aqui, neste livro que nasceu originalmente como monografia do seu curso de Especialização em História Regional, e que agora vem a público com o apoio da Editus/UESC.
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