Sinopse: Jeremias é um cara bom, mas tão bom, que empresta dinheiro em cheque mesmo quando está sem grana. Que fica no banco de reserva para equilibrar os times, mesmo se for o dono da bola. Que, se o turista não sabe como chegar a algum lugar, o pega pelo braço e leva.
E tão bom, mas tão bom, que a mulherada se derrete quando está na cama com ele.
Esta é a edição que reúne as suas histórias.
Positivo/Negativo: Jeremias é um cara bom, mas tão bom, que demorou para que a censura nos tempos de ditadura se desse conta de que ele também se enquadrava naquilo que os militares chamavam de subversivo. O personagem foi publicado de 1965 até 1969, em períodos divididos entre a revista O Cruzeiro e o Jornal do Brasil. Ninguém notou.
Só quando a primeira edição do álbum saiu, é que se deram conta que ali no meio de tanta bondade havia um punhado de páginas que revelava a dura situação do cenário político brasileiro.
São essas páginas que entraram nessa nova e bem-vinda edição do álbum, relançado depois de quase quatro décadas. Não são tantas histórias. Nem mesmo apresentam as melhores tiras. Mas são essenciais: apresentam uma terceira faceta do personagem. Sem elas, Jeremias é bondoso com seus amigos e com os que estão em seu entorno. Ou é bom em outro sentido: é o bonzão no futebol e na hora de "papar" a mulherada. Com o material censurado, passa a ser bom com o mundo inteiro.
O livro é um marco: apresenta Ziraldo como o artista gráfico fabuloso que é, com um traço brilhante, caracterizações irretocáveis, personagens profundamente expressivos, arte sempre econômica, mesmo quando abusa de pretos e hachuras (seu Inferno de Dante é um espetáculo).
Vale a pena reparar no recurso de aplicar uma cor extra, um vermelho puro, em alguns detalhes, para quebrar o preto-e-branco. É um recurso pelo qual Frank Miller seria festejado pelos fãs de quadrinhos 30 anos depois, na série Sin City (e também no filme). Mas já estava em Jeremias.