O título deste trabalho coloca-nos automaticamente na incandescência da
questão que ele pretende abordar: como acoplar ironia e teoria de argumentação?
Se é este macro-objectivo que o anima e o habita, é também nele que se
encadearão todos os aspectos que lhe são implícitos. Deste modo, explorar a
relação entre ironia e argumentação, perpassando, se não mesmo resvalando,
para outros aspectos nela articuláveis, tais como interrogatividade, retórica
e dialéctica, é querer esconjurar uma relação que foi sempre precária, menor
e neglicenciada, voluntária ou involuntariamente, quer na abordagem de
uma teoria da argumentação quer, por igual medida, na de uma concepção
da ironia. As razões para esta desvirtuação são sobejamente conhecidas e
prendem-se todas, grosso modo, com a hegemonia asfixiante imposta por um
modelo de racionalidade, invocado por uma auto-fundamentação rigorosa, que
se tornou emblematicamente monograma e monarquia do pensar filosófico, o
que conduziu a uma progressiva desvalorização e secundarização de todos os
domínios do saber que não correspondessem à linhagem desse saber proposicionalista,
hiper-verificado logicamente, garantindo um grau de consistência
sólida a toda a prova.
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