Inácio, O enfeitiçado e Baltazar, de Lúcio Cardoso, traz três novelas, sendo a última inédita. Considerado pela crítica especializada como o Dostoiévski mineiro, Lúcio Cardoso era um escritor atormentado, com uma obra intimista. Porta-voz do que existe de mais autêntico nos meandros da alma.
O livro faz parte da Trilogia do mundo sem Deus, uma maneira imaginada pelo autor para pensar a relação do homem com as palavras divinas. Em suas páginas, Lúcio Cardoso desfia um submundo de prostitutas, de alcoólatras e assassinos. Um Rio de Janeiro cheio de angústia, desolação e tragédias pessoais. Toda espécie de miséria e fascinação, brilho falso, espalhadas pelas ruas do Catete, da Lapa e da Cinelândia.
As três histórias se cruzam e se interceptam, sob a narração de um ou outro personagem. Os pontos de vistas dando origem a histórias distintas, mas, ao mesmo tempo, curiosamente semelhantes. Em Inácio, publicado originalmente em 1954, Lúcio Cardoso apresenta o leitor ao instável personagem de Roberto Palma. Um homem, segundo as palavras do autor, farto de vegetar como um pequeno animal obscuro e humilde. Apontado para sua cabeça, o revólver engatilhado de Lucas Trindade e, em seu quarto, o cadáver de Stela.
Em O enfeitiçado, os papéis se trocam. A caça se transforma em caçador e Inácio, já velho, procura Lucas Trindade pelos becos e vielas do bairro da Saúde. Uma peregrinação que o leva até o Méier e à descoberta de uma cartomante e sua jovem e bela filha, Adélia. Na última novela, Baltazar, incompleta, é a vez da prostituta Marcela — um dia conhecida como Adélia — mostrar o motivo de seu ódio por Inácio. Uma intrincada rede de intrigas cujo mistério depende de um novo personagem: Baltazar. A novela, no entanto, termina antes de todos os nós serem desatados.
Ficção / Literatura Brasileira / Romance