Histórias que a vida conta

O médico e empresário Delfin Gonzalez Miranda também é escritor. Mas não escreve textos apenas sobre técnicas de gestão voltada para empresários. Quase isso. Em “Casos&Causos – Histórias que a Vida Conta”, lançado em março deste ano, o executivo revela oficialmente o seu lado artístico ao enveredar pela literatura como um clássico contador de histórias. Trata-se de pequenas narrativas de fatos presenciados ou criados pelo autor. “Causos” aparentemente simples que, com um olhar um pouco mais cuidadoso, revelaram ensinamentos preciosos que o presidente-fundador do Grupo Delfin, uma das maiores companhias do setor de diagnóstico por imagem do país, acumulou. Certa vez, Guimarães Rosa declarou que “no sertão, cada homem pode se encontrar ou se perder”. E é com esse espírito que Gonzalez cria um ambiente povoado por personagens reais e imaginários que não se curvam aos contratempos e às situações engraçadas. Dentre tantos, destaca-se Zé Bambanga, seu sogro e espécie de mentor que o ensinou a trilhar pelo mundo das negociações “à sua maneira”, como escreveu Delfin, ainda no prefácio da obra. “Casos&Causos – Histórias que a Vida Conta” também instiga a atenção através de narrativas curtas centradas em situações corriqueiras, como uma pequena crônica onde três amigos tomam cerveja no “bar do Kafua” em uma tarde de sábado, ou quando dois sertanejos conversam em uma varanda. Além disso, boa parte das crônicas se passa na cidade imaginária de Custipiu, no sertão da Bahia, repleta de habitantes curiosos e “onde todo mundo conhece todo mundo”, narra o autor. Delfin dedica todo o segundo capítulo à pequena cidade de Custipiu. Não à toa, é neste trecho que se concentram as melhores passagens do livro, como os contos “A Terra da Liberdade”, que apresenta a pequena cidade da infância do autor ao leitor, e os ótimos “A Lista dos 100 Gays” e “Conto da AIDS”, sobre uma mulher que voltou de São Paulo “mestre em fazer homens felizes”.
Neste trecho, a literatura de Delfin Gonzalez nos revela a vida como uma escola, um meio para se adquirir conhecimentos. Como os grandes contistas da literatura, aborda as relações humanas com grande delicadeza, mas é o bom humor que rege as páginas do livro. Em “Power Tower Custipiu”, terceiro capítulo do livro, Gonzalez escreve sobre o primeiro e único arranha-céu da cidade imaginária, o qual é recheado de situações engraçadas, assim como em “O Aniversário da Bicha”, onde ele narra uma traquinagem aprontada por Furu contra Parel. De volta à roça, no capítulo IV Gonzalez retorna à Zé Bambanga e traça uma ligação entre seu sogro e um episódio de sua carreira como empresário do setor de saúde, quando adquiriu o primeiro aparelho de Ultrassonografia e precisou vender tudo para juntar o máximo possível de capital. Sem dinheiro, passou uma temporada com o sogro para “saber das novidades em termos de rolo”, sendo este um dos contos mais interessantes da publicação, tanto sobre aprendizado, quanto sobre amizade. Pode-se dizer que o livro “Casos&Causos” põe em movimento as lições da vida em um cenário que remete às observações e andanças que interferiram no caráter e na postura profissional do empresário. E um bom exemplo é o conto “Estradas da Vida”, que encerra o livro. Nele, o autor fala do presente e lembra da equipe que o acompanha em sua jornada à frente do Grupo Delfin em uma página ilustrada por uma bandeira com a palavra “Vencer”.

Crônicas / Literatura Brasileira