História das lutas com os holandeses no Brasil

História das lutas com os holandeses no Brasil Varnhagen


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História das lutas com os holandeses no Brasil


Desde 1624 até 1654




CAPÍTULO 4 – PÁGINA 119
Já não restava a Albuquerque outro recurso senão o de retirar-se de Vila Formosa, do melhor modo que lhe fosse possível. A firmeza com que procurou sustentar-se na fraca oposição em que estava, só para com a sua retirada, que todos aconselhavam, não desmoralizar os defensores do arraial e do cabo, é para nós o ato desta campanha que mais nos excita por ele a nossa admiração e simpatia. Não abandonou esse posto senão, justamente, depois de lhe chegar a notícia de que a Fortaleza da Nazaré se havia rendido. E o mais é que durante os quatro meses que permaneceu em Vila Formosa não deixou de achar-se também a braços com inimigo, que reunira uma grande força no vizinho engenho da Pindoba. O expediente das companhias de emboscada, que tanto lhe havia aproveitado em outras ocasiões, ainda lhe valeu nesta, prestando de novo valiosos serviços o herói índio Camarão.

Uma dessas companhias foi a dos Batistas, treze irmãos (de pai e mãe) deste apelido, de que era chefe o mais velho, Manuel; sendo que quase todos se sacrificaram em defesa da Pátria.
Começou Albuquerque a retirada de Vila Formosa no dia 3 de julho; tomando o mando do distrito Gaspar van der Ley, que aí se casou e ficou estabelecido.
Agora era de ver aquela marcha de retirada militar: como uma emigração de pátrio lar, deixando abandonados bens, fazendas e parentes. Com efeito, acompanhavam a Matias de Albuquerque muitos dos moradores com suas mulheres e filhas, em quase todas as quais o valor se lhes redobrava no momento do perigo, como tantas vezes sucede às do seu sexo.

CAPÍTULO 8 – PÁGINA 214
Seguiu, porém, a maior parte da força com Vieira e Cardoso para a Fortaleza de Santo Antônio do Cabo, onde mandava Gaspar van der Ley, aí casado, que, segundo informara João Gomes de Melo, parente de sua mulher, se uniria aos nossos. Sucedeu, porém, que o mesmo van der Ley foi, com toda a guarnição, por ordem superior mandado para reforçar o Pontal, onde comandava Hoogstraten; pelo que os nossos encontraram a Fortaleza de Santo Antônio desguarnecida e, facilmente, dela se apoderaram. Dois dias depois de aí se acharem, receberam a notícia de haverem desembarcado na Barra Grande os terços ou regimentos de tropa de linha comandados por André Vidal e Martim Soares; dentro em pouco, apresentou-se, na fortaleza, o próprio Vidal que, com 12 soldados, adiantara-se dos seus desde a Ipojuca. Vidal trazia já para Fernandes Vieira a nomeação de mestre-de-campo297 e uma ordem do Governador Geral da Bahia para daí em diante ter com o mesmo Vieira parte no governo, intitulando-se: “Mestre-de-campo e Governador com poderes de Capitão-General”. Mas se até então Vieira nada resolvia, senão pela boca de Antônio Dias Cardoso, daí em diante, até tomar o comando, o General Francisco Barreto, foi Vidal o verdadeiro diretor da guerra e assim o entendeu o inimigo, que com ele manteve, principalmente, a correspondência que possuímos, traduzida em holandês e que mostra a sua capacidade.
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297 Ainda no dia 9 de agosto, Vieira não se dava este título, com que somente começa a adornar-se deste no dia 15. Vejam-se os documentos que publica Melo, I, 165 e 167.

CAPÍTULO 8 – PÁGINA 216
Conseguida a vitória da Casa-Forte, que custou aos nossos 16 mortos e 35 feridos, entrando neste número os bravos Henrique Dias e Domingos Fagundes; Vidal, deixando a Vieira, com toda a gente de Pernambuco, incomodando o inimigo e regularizando o sítio do Recife, correu, com o seu terço, a reforçar a Martim Soares, que deixara investindo na Fortaleza do Pontal. A derrota completa de Hous, já aí conhecida, deveu concorrer para a pronta rendição da praça, aumentando a força moral de uns e desacoroçoando a outros. Com tais precedentes, julgou Vidal que mais facilmente ocuparia a praça, entrando em negociações, que pondo-lhe baterias e atacando-a pela sapa. Escreveu, pois, uma carta a Hoogstraten, expondo-lhe quanto se passava, lembrando-lhe os anteriores compromissos na Bahia, acrescentando os de van der Ley com João Gomes de Melo e exortando-o a que capitulasse com cláusulas análogas às concedidas à guarnição de Serinhaem, cuja execução havia sido pontualíssima, como ele devia saber.
Esta carta foi parar nas mãos dos do Conselho do Recife, não sabemos se enviada pelo próprio Hoogstraten, arrependido do seu procedimento na Bahia e anelante de restaurar a antiga confiança, se tomada ao portador por alguma guarda ou destaca-mento. O certo é que, com outros documentos, veio pouco depois (1647) a ser dada à luz em Amsterdã, em um conhecido folheto intitulado Claar Vertooch etc. Em todo caso, não veio a praça a resistir por muito tempo, pois se rendeu no domingo, dia 3 de setembro, justamente quando se cumpria um mês depois da vitória das Tabocas. A guarnição saiu com as honras da guerra e vários oficiais, incluindo Hoogstraten e van der Ley e, também, muitos soldados se alistaram nas fileiras do exército restaurador. Recusaram-se, porém, a isso, alguns e, entre eles Isaac Zweers, que depois veio a ser Vice-Almirante na Holanda.
Aos rendidos devia o inimigo alguns meses de soldo e de pré, uma das condições da capitulação foi que os nossos se responsabilizavam por esse pagamento. Para efetuá-lo, foi imposta, aos moradores, uma soma de quatro mil cruzados, à qual se juntou outra igual, mandada da Bahia pelo Governador Geral.

CAPÍTULO 9 – PÁGINA 226
Os nossos, retirados de Itamaracá, ocuparam Olinda e resolveram investir, rigorosamente, na praça do Recife, levantando em redor várias estâncias e trincheiras. Um forte foi também construído para quartel-general, ao qual se deu o nome de Arraial Novo do Bom Jesus.307 Sabemos que esse arraial ficava na Várzea, à margem direita do Capibaribe; e, provavelmente, seria o quadrado abaluartado,308 de que, com o nome de “O Forte” ainda hoje se vêem, muito bem conservados, os restos com o competente fosso, em uma paragem um tanto elevada da várzea, tomando-se à esquerda, depois de passar a ponte da Magdalena.309 Desse arraial foi datada uma representação ao rei, assinada até por oficiais holandeses, como Hoogstraten e van der Ley, que concluía com estas ameaçadoras palavras: "Com toda a submissão, prostrados aos pés de V. M., tornamos a pedir socorro e remédio com tal brevidade que não nos obrigue a desesperação, pelo que toca ao culto divino, a buscar em outro Príncipe católico o que de V. M. esperamos."

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Resenhas para História das lutas com os holandeses no Brasil (1)

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Referência
on 19/7/10


Esse livro é referência obrigatória para quem quer estudar as invasões holandesas no Brasil. Não é leitura fácil, às vezes temos que voltar umas páginas para entender o que está acontecendo, mas mesmo assim vale à pena! Aprende-se muito sobre os combatentes dos dois lados e sobre as operações de guerra. Aliás, o livro é praticamente só descrições de combates, bem ao estilo da época! Do lado luso-brasileiro temos: Antônio Dias Cardoso (capitão de emboscadas), André Vidal de Negreiros, ... leia mais

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