O homem que parte nunca será o mesmo quando voltar."
Li a frase acima num enorme poster do filme La Trace, de Bertrand Tavernier, e, desde então, acredito muito nela.
Nossas partidas, sejam para as pequenas viagens ou para as grandes aventuras, significam sempre mais um passo rumo a novas experiências, ensinamentos, lições de vida.
André Azevedo e Klever Kolberg, meus caros amigos "africanos", sabem bem o que significa isto. Durante oito anos consecutivos eles partiram e felizmente voltaram, carregados de tudo: alegria, tristeza, derrotas, glórias, experiências boas e más, visões inesquecíveis, conhecimentos, sabedoria...
Eles não são mais aqueles. Não aquele André e aquele Klever que já no distante ano de 1988 embarcaram rumo a Paris para participar do primeiro rali de suas vidas. Pensavam na época serem homens, mas com certeza hoje sabem que eram apenas meninos. Hoje seguramente são homens na mais ampla acepção da palavra, e múltiplos: pilotos, engenheiros, navegadores, empresários, palestrantes, "marketeiros", aventureiros, formadores de opinião... Longa a lista!
Convivi com a dupla no 13o Paris-Dakar, de 1991, quarta participação deles. Estar engajado no time brasileiro como repórter, fotógrafo, auxiliar de mecânico, carregador e quebra-galhos em geral foi um verdadeiro presente. Imaginei então estar vivendo uma grande aventura e, à distância de anos, acrescento que recebi também uma grande lição de vida. Parte dela veio do velho continente, a "mãe África". A outra parte da lição veio deles mesmos, André e Klever. Na ocasião o extrovertido e polêmico Klever quebraria um braço às portas de Agadez, no meio do rali. Grande tristeza.
Dias depois, o tímido e amável André colhia a glória de ser o primeiro colocado da categoria Maratona. Profunda alegria.
Destinos diretamente opostos para um mesmo empenho e dedicação. Lição de vida. Anos depois, o resultado se inverteria.
Nas próximas páginas você, leitor, será presenteado quase como eu fui. Estes homens acrescentaram ainda mais generosidade às suas personalidades com suas andanças deserto afora, decidindo agora dividir conosco parte de suas saborosas aventuras e vivências.
Enquanto lia, voltei a 1991. Relembrei a fome, o frio, o desconforto, o medo e especialmente o fascínio que os desertos e o rali Paris-Dakar provocaram em minha pessoa, me modificando, felizmente, acredito eu, para sempre.
Agora é a sua vez, e atenção: será impossível ler as próximas páginas sem sentir ao menos um pouco de todas estas fortes emoções. Você vai partir com eles e, ao ler a última linha da última página, pode ser que você não seja mais o mesmo. Felizmente...
Roberto Agresti
Editor da revista MOTO!