Fundamentalismo

Neste livro, Leonardo Boff amplia nossa compreensão do que é o fundamentalismo, mostrando que se trata de uma forma de ver o mundo presente não apenas no islamismo, o que se tornou comum pensar após os ataques terroristas aos Estados Unidos, como nas demais religiões, na economia, na política e em nossa cultura. Além de uma esclarecedora apresentação da religião islâmica e das vertentes fundamentalistas das outras religiões, o autor oferece uma visão histórica do processo de globalização e de sua relação com os conflitos no mundo inteiro, e aponta as alternativas de que dispomos para construir uma duradoura paz entre os povos.


Repetir nem sempre é um erro. Repetir o que é certo, e bom, e justo isso certamente é defensável. Eis portanto, novamente, Leonardo Boff em nossa prateleira. E desta feita, traz à tolerância de seu pensamento um dos temas mais debatidos do momento: o fundamentalismo. Não, ninguém pense que é uma análise aprofundada da História do Islã, do terrorismo, da barbárie, como é comum encontrar em expressiva parcela dos analistas e líderes políticos de nosso tempo. Alargando as fronteiras do conceito de fundamentalismo, ele visita o termo e o resgata na economia, na política, na ecologia e até, claro, na religião. Mesmo quando brada contra a injustiça e o preconceito, Boff busca abrandar o coração dos leitores e voltá-los à concretização de um mundo mais aberto a oportunidades para os seres humanos realizarem e transcenderem, respeitando cultura diversa e diversas formas de viver. As mesmas que, por interesses nem sempre honestos, são impropriamente rotuladas de fundamentalistas. O pequeno e aparentemente despretensioso livro é, em si, um alerta ao preconceito. Em suas 91 páginas há humanidade pura, essencial e profundamente complexa.



FUNDAMENTALISMO A Globalização e o Futuro da Humanidade Leonardo Boff


"Fundamentalismo Católico"


Há duas vertentes de fundamentalismo católico: o doutrinário e o ético-moral."


O fundamentalismo doutrinário é bem representado no documento Dominus Jesus do ano 2000, assinado pelo Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da antiga Inquisição, que aborda a relação de Cristo e da Igreja Católica com as demais igrejas e religiões. Aí se sustenta que a Igreja Católica é a única Igreja de Cristo. As demais denominações cristãs não são igreja, trata-se de usurpação do título. Possuem apenas elementos eclesiais. O catolicismo comparece também como a única religião verdadeira, e os que não se converterem à Igreja Católica Apostólica Romana correm risco de perdição eterna. Cinqüenta anos de trabalho ecumênico, de trabalho inter-religioso, aparentemente se esvaíram, porque as velhas teses medievais da Igreja como única portadora dos desígnios de Deus, e fora da qual não há salvação, foram ressuscitadas. Isto provocou um escândalo em toda a Igreja, escândalo que não foi ainda digerido nem por nós católicos, muito menos pelos protestantes, que estavam se acercando muito próximos da Igreja Católica.


"O Fundamentalismo Neoliberal e o Técnico-Científico"


Desmoralizam-se outras formas de conhecimento que vão além ou ficam aquém dos caminhos da razão instrumental-analítica. Ocorre que o projeto da tecnociência gestou o princípio da autodestruição da vida. A máquina de morte já construída pode pôr fim à biosfera por vinte e cinco formas diferentes e impossibilitar o projeto humano. Na guerra bacteriológica basta meio quilo de toxina do botulismo para matar um bilhão de pessoas. Existem acumulados nas potências militares cerca de trinta quilos de toxina de botulismo.


"Palavras Finais"


Acho que nos encontramos numa travessia perigosa, um momento crítico em que os velhos deuses ainda não morreram e os novos não acabaram de nascer. Todos estamos angustiados, perplexos, buscando saídas que não vemos imediatamente. Mas já notamos o alvorecer de um horizonte de esperança. Porque mais e mais cresce a consciência de um destino comum da Terra e da humanidade. De que somos co-responsáveis por nossa casa planetária, de que precisamos cuidar dela, porque não temos outra para morar. Da água cada vez mais escassa, da paz necessária sem a qual iremos nos destruir. Cada vez mais cresce essa consciência extraordinária revelando a semente que está nascendo.

Oxalá, Seu Boff! Oxalá!