Extinção

Extinção Thomas Bernhard


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Extinção


Uma derrocada




A ideia, a necessidade ou o desejo de autodestruição estão no centro da obra de Bernhard. Em Extinção, este centro parece avançar até a borda e restar como verdade última da existência e da linguagem.

Franz-Josef Murau é a ovelha negra de uma família de latifundiários austríacos: sua repulsa pela Áustria o levou a auto-exilar-se em Roma. Quando um telegrama lhe comunica a morte dos pais e do irmão, é obrigado a regressar imediatamente à terra natal, Wolfsegg. Estivera ali dias antes, para o casamento da irmã. Reduto católico e nacional-socialista, Wolfsegg espelha a infâmia austríaca: é a fonte do sustento e da ruína moral de Franz-Josef, seu novo proprietário.

Neste livro em que tudo se repete, a viagem desencadeia a ação, isto é, desencadeia um fluxo de pensamentos e reminiscências que se torna mais cerrado a cada página, mais obstinado, mais compulsivo. Murau tem de repetir a viagem recém-concluída, participar de rituais fúnebres que se repetem há séculos, repetir em palavras, extensivamente, a torrente de suas memórias. Esta será a forma de apagar qualquer vestígio que o prenda à origem execrada: "Estou de fato retalhando e dissecando Wolfsegg e os meus, aniquilando-os, extinguindo-os, e retalho e disseco dessa forma a mim mesmo, disseco-me, aniquilo-me, extingo-me".

Poucos escapam da virulência de Murau, cuja desmedida chega a torná-lo burlesco, a dar à sua voz um tom caricato. A catilinária a que ele se entrega equivale a renunciar incondicionalmente a si mesmo e ao mundo - e nesse processo ideia e forma linguística confluem com virtuosismo. Casando com maestria fábula e concepção linguística, Thomas Bernhard empresta a Murau um falso coloquialismo que se apoia numa sintaxe circular altamente elaborada, num amálgama de discurso direto e indireto que faz a voz de Murau ecoar todas as vozes que abomina.

A ideia, a necessidade ou o desejo de autodestruição estão no centro da obra de Bernhard. Em Extinção, romance repleto de alusões a livros anteriores do autor e que é também o título do testemunho escrito de Murau, este centro parece avançar até a borda e restar como verdade última da existência e da linguagem.

Ficção / Literatura Estrangeira / Romance

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on 2/9/20


Ler Bernhard é a coisa mais extraordinária desde Dostoievski e Schopenhauer. Cada linha transborda intensidade e é visceralmente real. Ao mesmo tempo, para àqueles que desconhecem o prazer da solitude, que não está habituado com o valor da integridade, quem nunca se viu ocupado com a questao da dignidade humana, digo-lhes que fique longe de Bernhard. Não o leia se ficas ofendido por pouca coisa, ele provoca e faz pensar. Adoro esses reencontros. A releitura 18 anos depois me mostra p... leia mais

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Desejam94
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fbonillo
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RicardoDM
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