Estudos da Língua Brasileira de Sinais III

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Estudos da Língua Brasileira de Sinais III





O volume 3 da Série Estudos de Línguas de Sinais reúne onze pesquisas recentes da área de Estudos da Tradução e Interpretação de Línguas de Sinais e Estudos Linguísticos das Línguas de Sinais e um relato de experiência.
Os textos aqui reunidos mostram de forma clara os resultados de dois avanços na nossa área: primeiramente a migração da pesquisa em línguas de sinais da área de educação para a área de Estudos da Tradução e Interpretação. Neste novo contexto, libras é “apenas” mais uma língua estrangeira com o seu respectivo universo cultural. Porém, “apenas” não significa uma degradação, muito antes pelo contrário, é a emancipação acadêmica da língua de sinais e a libertação do estigma da deficiência. Em segundo lugar, é resultado do investimento em pesquisas no nível de pós-graduação nos últimos anos. A nova geração de pesquisadores surdos e ouvintes usa metodologias sofisticadas com naturalidade e excelentes resultados. Certamente, uma maior compreensão de aspectos relevantes da nossa área será um dos frutos do seu esforço, ao mesmo tempo motivando e encorajando outras pesquisas relacionadas.
Assim, o levantamento de Neiva de Aquino Albres e a introdução do texto de Carlos Henrique Rodrigues trazem uma avaliação das pesquisas mais recentes nas duas áreas que mostra o avanço considerável em termos de quantidade e qualidade dos estudos na nossa área ao longo dos últimos anos. Destacam a entrada da perspectiva dos estudos da tradução aplicada à área de Estudos das Línguas de Sinais e o uso de ferramentas tecnológicas como recursos de gravação e edição de registros em vídeo ou ferramentas de transcrição e análise como o ELAN (Eudico Linguistic Annotator), utilizado também na maioria dos estudos desse volume.
A análise detalhada do processo de interpretação PB-Libras por intérpretes profissionais experientes CODAs e Não-Codas efetuada por Carlos Henrique Rodrigues, baseada na Teoria da Relevância, lança uma nova luz sobre facetas e nuanças da interpretação e permite a conclusão que não necessariamente há uma diferença entre as formas de interpretação dos dois grupos.
A contribuição de Markus J. Weininger discute alguns aspectos teóricos mais gerais da função da linguagem para a constituição da identidade linguística e salienta a necessidade de analisar e aplicar aspectos sociolinguísticos e prosódicos para uma interpretação bem-sucedida no par de línguas PB-Libras.
Aline Miguel da Silva analisa a participação de alunos surdos nas aulas de mestrado intermediadas por intérpretes e constata a existência de uma “cúpula de vidro” formada pelos usuários da língua de sinais que constitui uma zona de conforto tanto para os alunos surdos e os intérpretes quanto para os professores e alunos ouvintes, porém cria obstáculos para uma integração maior dos alunos surdos no discurso da sala de aula.
O trabalho de Natália Schleder Rigo investigou o tema da tradução de canções para libras com grande sensibilidade para desmascarar atitudes implicitamente ouvintistas e desmistificar tabus na polêmica tentativa de tentar uma forma de acesso dos surdos a esse produto cultural ouvinte. Ao averiguar diferenças entre sinalizantes surdos e ouvintes em três gêneros musicais (hinos, canções religiosas e música popular) em um grande número de critérios analisados, ela acaba destilando algumas sugestões como proceder de forma mais satisfatória nessa área.
Bruno Ramos, Eliane Cristina Reis e Marylin Mafra Klamt analisam a tradução cultural de um poema originalmente escrito em língua indígena e espanhol para libras, não apenas transpondo o contexto de exploração e repressão de uma minoria para a cultura alvo, mas ao mesmo tempo aplicando avanços na teoria da tradução de poesia na tradição do funcionalismo alemão.
Para encerrar essa seção do presente volume, Markus J. Weininger e Mylene Queiroz dão um retrato da situação da interpretação de língua de sinais na área da saúde no Brasil, baseado em dados levantados mediante um questionário on-line anônimo, respondido por mais de quarenta profissionais e constatando que faltam intérpretes qualificados e uma oferta de qualificação para esta modalidade.
Na seção de Estudos Linguísticos das Línguas de Sinais juntamos quatro pesquisas pioneiras que abrangem a aquisição da língua de sinais por crianças bilíngues bimodais, a aprendizagem do inglês como LE por alunos surdos, a análise linguística de padrões simétricos na poesia em libras e indicadores de formalidade na tradução de editais para libras.
O estudo pioneiro de Rodrigo Custódio da Silva usa a análise dos critérios espaço de sinalização, velocidade de sinalização, soletrações manuais, expressões faciais e parâmetros totalmente articulados para constatar que mesmo com diferenças entre os estilos tradutores-atores pesquisados, claramente existe um registro formal consistente de libras para textos oficiais monológicos.
De forma semelhante, o estudo de Marilyn Mafra Klamt, Fernanda de Araújo Machado e Ronice Müller de Quadros mostra a existência consistente de padrões de ritmo e simetria na análise de três poemas em língua brasileira de sinais.
Bruna Crescêncio Neves analisou a constituição de narrativas por crianças bilíngues bimodais com destaque ao uso do espaço referencial fixo e transferido e a diversificação dos componentes narrativos ao longo do crescimento da capacidade linguística das crianças dos quatro aos oito anos, constatando o desenvolvimento de proficiência completa nos dois idiomas pelas crianças bilíngues bimodais.
A pesquisa de Aline Nunes de Sousa mostra a bem-sucedida iniciativa de ensino bilíngue comunicativo de inglês escrito como L3 para alunos surdos (que necessitam acesso ao idioma no contexto acadêmico) através de atividades criativas e motivadoras para a leitura e escrita além de análises comparativas com a estrutura da L2 (português), usando libras como língua de ensino.
Para finalizar, o depoimento da própria experiência como CODA de Sônia Marta Oliveira traz uma reflexão ao mesmo tempo profunda e poética sobre a constituição da identidade cultural e linguística das crianças que transitam nos dois mundos e nas duas culturas e por isso conseguem atuar em ambos de forma eficaz para contribuírem com a diminuição da distância e aumentar a consciência do valor de cada um.

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A Criança Surda
O Papel do Outro na Escrita de Sujeitos Surdos

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Angela
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15/07/2014 16:03:50

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