Entre o que brilha e o que arde

Entre o que brilha e o que arde Prisca Agustoni


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Entre o que brilha e o que arde





O título do livro prenuncia de imediato a presença de dois polos fundamentais, faíscas cintilantes que tanto iluminam quanto cegam o leitor que se aventurar por essa paisagem às vezes fria, outras vezes incendiada, e por onde desfilam figuras andôginas, máquinas mortíferas ou florestas milenares. É nesse pêndulo oscilante entre a ameaça e a esperança, entre o que se projeta para o futuro e o reflexo distorcido do passado que se constroem as tramas principais dessa nova coletânea de Prisca Agustoni, atravessada por temas caros à sua poética, como a migração, o plurilinguismo e a constante indagação da memória coletiva e individual.

O teor metalinguístico de sua escrita está presente no diálogo intenso que a autora estabelece com artistas plásticos e escultores, através do qual propõe reflexões sobre o próprio processo criativo ou sobre a sempre necessária releitura da história. No entanto, se em abertura do livro as estátuas da artista islandesa Steinunn Thoraridsóttir — de aço e de bronze — evocam corpos mudos e sem expressão, através das palavras da poeta, aos poucos, estes assumem uma feição cada vez mais humana, mais semelhante a cada um de nós — perdidos e inertes no caos contemporâneo. Assim, as instalações metálicas do escultor suíço Jean Tinguely – que evocam a crueldade do holocausto — são ressignificadas a partir de uma voz lírica (e áspera) que parece se levantar da sucata, dessa “fábrica de dejetos”.

Outro diálogo com as artes plásticas está na sequência que encerra a coletânea. Como explicita Prisca Agustoni, trata-se de uma tentativa de fixar em palavras o movimento interior da artista suíço-brasileira Mira Schendel (migrante assim como ela), movimento este que foi motor de criação em suas obras pictóricas ou em suas instalações, através de um inquieto interrogar a natureza do real (em sua materialidade) na medida em que foi se interrogando sobre os mistérios da existência.

Já na seção central “Arcaicos” — como coração pulsante de um animal ancestral — é onde se desdobram as temáticas recorrentes em sua escrita — a memória individual, a relação entre as línguas, o espanto diante da morte por COVID do último membro da etnia Juma, a releitura dos vários incêndios que devastaram o país, seus museus e suas florestas.

Em definitiva, esse livro, breve e intenso, se compõe por indagações que se cruzam ao longo dos versos, se aproximam, circulares, como uma corola em cujo centro polinizador está a poesia em estado bruto, ardente, lacerante, brilhante.

Literatura Brasileira / Poemas, poesias

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Mariana - @escreve.mariana
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