Uma economia da cultura propõe-se à temeridade de um balizamento multidimensional, de condutas sociais. Detectar a sua produção, e o aparelho que a garante, deve escapar à ideia de gestão e sua rede, inseridas num espaço ortodoxo de desenvolvimento. É no prisma do simbólico que ela foge a toda articulação clássica de fluxos e cadeias setoriais, ou de canais de circulação, ou das ditas tecnologias produtivas. Vamos, sim, àquele intangível de resultados em que se manifesta a dita “vida do espírito” ou a propriedade intelectual, para de fato aninhar-se na mais sutil das dimensões, no processo histórico, em que se assentam a identidade e o dado inconsútil de nosso “ser de ação”.
Gestões políticas ou abordagens – tal como se abre neste estudo pioneiro – apontam ao próprio desse universo, em que ganham outra sintaxe expressões como “mapear”, “fluxos” ou “interagir” com a economia e a tecnologia, ou definir o insight e não a captura de um desempenho. A cultura pervade a modernidade, com outra medida e surpresa que a das escalas definidas, aparentes, de mudança. Estaria no limiar destes cenários caprichosos para uma nova revelação na ribalta urbana e, nela, de cidades em que, de fato, brota a sua efervescência. Seria o caso, como recados antecipados, de Barcelona, Londres ou Amsterdã.
O presente trabalho é desbravador, no enfrentar essas perplexidades, mas resulta, enquanto é fiel a um novo sintagma, e reconhece as transposições do mundo das realidades mensuráveis, sabendo da cautela das ambições de um planejamento estratégico ou da pobreza do real, assimilado ao dito normal. A práxis aí está na bateia da reflexão, e tem que ter a temeridade como método, e a cautela para chegar ao mais além que diga para, de fato, descobrir e responder pelo seu recado.
- Candido Mendes
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