Do Ódio

"Assim como da morte não se pode falar de maneira fecunda, senão do ponto de vista da vida, não falei aqui do ódio senão por um interesse pleno de afeição pelo mundo em que vivo. A sorte dele não tem como ser-me indiferente. Portanto, não me agrada odiar, não sei odiar "de morte" e, se escrevi este texto, fi-lo partindo da estupefação que algo como o crime - e principalmente este, feito com sistema - pode existir geralmente. No entanto, o ódio existe, assim como existe também o crime, mas a presença deles na nossa vida, principalmente quando captava conotação histórica, tinha de ser levada em consideração. Depois de 1948, o ódio organizado como princípio de governo devastou a sociedade romena: devastou as almas dos homens e as relações entre eles, assim como, pelos instintos de destruição liberados, devastou as acumulações do passado, igualmente - tornadas de todos e de ninguém -, a terra do país, suas águas e florestas. Este processo continua hoje em outras formas. O que nos esforçamos para colocar de pé é, no fundo, um país devastado pelos efeitos do ódio institucionalizado historicamente. Levei em consideração o ódio assim como o médico, para curar o paciente, tem de primeiro inclinar-se para a doença dele" (Gabriel Liiceanu).