Imagine sua vida com trilha sonora: você despertando ao som de Fun Day, de Stevie Wonder, sobrevivendo ao engarrafamento tranqüilizado por Slowly, de Milt Jackson, aguardando a vez no banco repetindo o mantra Não quero dinheiro, de Tim Maia. E Mozart no elevador, Michael Jackson durante o sexo, Lobão na prisão...
DJ pessoal, segundo livro do multifacetado escritor Dodô Azevedo, é um manual que ensina como permear cada hora de nosso dia com a canção mais apropriada. Após dedicar-se à reflexão do que fizemos de nossos relacionamentos urbanos para chegarmos a um estado de incomunicabilidade – tema presente em seu livro anterior, Pessoas do século passado –, o autor-jornalista-DJ apresenta agora um livro de "áudio-ajuda".
Se até pouco tempo atrás as músicas que ouvíamos nos eram impostas do ambiente, vazadas pela janela do vizinho ou sussurradas pelo sistema de som do dentista, a mágica invenção dos iPods trouxe-nos o poder de determinar a nossa própria trilha sonora. Estes aparelhos, netos dos rudimentares walk-men, podem carregar milhares de músicas que são obtidas, na maioria das vezes, de maneira gratuita na internet.
A revolução que experimentamos hoje, quando o modo de consumirmos música se define pela abundância e variedade das canções que podemos selecionar, é sim desdobramento do hábito de ouvirmos LPs nas salas de casa, mas também do rádio e da pista de dança. E foi nela que o autor desenvolveu seu talento de mesclar estilos, sentir e pressentir o que excitará as tribos, e fundi-las em um grande ajuntamento humano tão múltiplo a ponto de podermos enxergá-lo como massa.
Há 14 anos trabalhando como disc jockey, o escritor e crítico musical Dodô Azevedo teve também passagens pelo rádio, quando comandou programas na extinta Fluminense FM, do Rio de Janeiro, e pelos estúdios de gravação de som. Como DJ, já teve a oportunidade de discotecar em uma mecânica de motos, para apenas 6 pessoas, e para festas do programa Big Brother Brasil, com audiência estimada em 60 milhões de espectadores.
Ao sugerir canções em seu livro de "áudio-ajuda", discotecando palavras, o autor estimula um mélange de estilos que cruzam os limites definidos pelos segmentos ou tribos, e propõe uma educação do gosto que o compreende como múltiplo. Quando a reflexão sobre o indivíduo e as massas ganha novos contornos, a possibilidade de programarmos nossas próprias rádios particulares nos liberta da condição de reféns do gosto alheio.
De sua aguçada observação dos costumes, Dodô elaborou um cardápio de 65 situações cotidianas, que vão desde o nascimento até o velório, passando por desilusões amorosas, tarefas prosaicas como o lavar louças, assaltos, passeios de bicicleta. Para cada situação sugere 10 canções, de diferentes estilos, com uma escrita leve como deve ser a dos manuais, bem-humorada e sagaz como prevêem as notas jornalísticas sobre música.
DJ pessoal conta, ainda, com uma "caixa de surpresas", um compêndio que lista o essencial da canção dos anos 60, 70, 80 e 90, além das músicas fundamentais da ópera, do jazz, do rock and roll, da música eletrônica, do hip-hop e da MPB.