Dias exemplares

Dias exemplares Walt Whitman


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Dias exemplares





Dias exemplares, reunião de dezenas de textos curtos que formam uma espécie de autobiografia livre e comentada, é visto como o outro lado da moeda, em prosa, da reunião de poemas Folhas de relva, a obra-prima de Walt Whitman (1819-1892), tida como o marco fundador da literatura moderna norte-americana. Bem menos conhecido, Dias exemplares, publicado agora pela Carambaia, aos 200 anos de nascimento do poeta, é definido por ele mesmo como “o livro mais fragmentário, espontâneo e direto que já se imprimiu”. Estruturado a partir de anotações pessoais e memórias de uma vida inteira, Dias exemplares é uma reunião de descrições, trechos de poesia em prosa, listas, pequenos ensaios, alguma consideração sobre política, retratos de personagens ilustres e pessoas comuns, cartas e citações – mas tudo converge para uma narrativa cronológica e relativamente organizada.

Segundo Bruno Gambarotto, tradutor e autor do posfácio da edição e doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), Whitman, que terminou Dias exemplares aos 64 anos e com sequelas de um derrame, contou com “o esforço de um círculo de admiradores, que o auxiliam no processo de dar acabamento e unidade a uma vida e obra repletas de obscuridades e arestas e definir os contornos do que se pode entender como uma personagem de si mesmo”. O poeta-personagem é um entusiasta da democracia que interpreta a Guerra de Secessão como um momento de edificação dos Estados Unidos, uma nação poderosamente militarizada, generosa e em tudo diferente das nações europeias.

O retrato humano e gentil dos soldados feridos e mesmo prestes a morrer da Guerra de Secessão é um dos pontos altos de Dias exemplares e deriva de um acontecimento real na vida de Whitman: ao deparar com uma lista sumária de mortos em batalha, o poeta ficou em dúvida se seu irmão estava incluído. Foi para Washington, onde descobriu que o irmão estava vivo e dedicou-se a trabalhar voluntariamente como enfermeiro dos soldados feridos. Os relatos são vivos e comoventes, vistos sob um prisma que considerava o martírio dos soldados como “de importância maior até mesmo do que os interesses políticos envolvidos.” Seu poder de observação e sua escrita brilhante fornecem um testemunho único dos sofrimentos de uma guerra e do cotidiano da capital norte-americana durante a Guerra de Secessão e seu desfecho.

No mais, é a poderosa capacidade de deslumbramento que se sobressai em Dias exemplares, seja diante das cidades que Whitman visita em todas as latitudes dos Estados Unidos, seja, principalmente, frente à natureza que fascina o poeta em suas deambulações, muitas vezes com fim terapêutico. Árvores, animais e rios, em presença panteísta, são soberanos em sua visão de mundo, como está claro também em Folhas de Relva. “Não posso me desfazer de meu apetite por literatura, mas acabo me vendo experimentando-o vez por outra pela Natureza”, escreve Whitman em Dias Exemplares.

Walter Whitman, que adotou o apelido Walt em sua assinatura literária, nasceu em Long Island, estado de Nova York, numa família de agricultores com pouca educação formal. Era o segundo de nove filhos. Quando tinha 4 anos, a família se mudou para o Brooklyn. Whitman começou a trabalhar aos 12 e foi, ao longo da vida, linotipista, jornalista, funcionário público, ativista político e professor, além de enfermeiro voluntário. Como morador de Nova York na juventude, desenvolveu o gosto por música e teatro, e começou a experimentar um novo tipo de poesia, que lhe valeria no futuro o título de “pai do verso livre”, embora não tenha sido o inventor desse formato. Em 1855, às próprias expensas, publicou a primeira edição de Folhas da Relva, que teria outras oito edições durante a vida do poeta, cada uma revista e acrescida de novos poemas. O primeiro volume não levava seu nome, mas seu retrato, e chamou a atenção de leitores ilustres como o filósofo Ralph Waldo Emerson.

Em 1873, Whitman sofreu um derrame que o deixou temporariamente paralisado do lado esquerdo. Em parte recuperado, foi morar com um irmão em Camden, Nova Jersey, onde viria a morrer. Sua fama como poeta se encontrava estabelecida, a ponto de ser publicado em 1888 um volume de suas obras completas. Entretanto, o espírito antirreligioso e as passagens de sua obra que abordam livremente a sexualidade lhe custaram mais de um emprego. Whitman morreu como um poeta malvestido e rebelde, mas porta-voz de uma nação jovem e orgulhosa.

O projeto gráfico da edição da Carambaia é da autoria de Thiago Lacaz. A capa e as páginas internas são ilustradas com silhuetas de folhas. Cada um dos 1.000 exemplares da edição tem na capa uma folha diferente, que Lacaz colheu, como Whitman costumava fazer, para depois prensá-las entre páginas de livros. A fonte tipográfica usada na composição foi a Whitman, desenhada pelo norte-americano Kent Lew e batizada em homenagem ao poeta.

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O que não se compreende é muito mais.
on 6/7/21


Começar a ler Whitman por estas notas foi uma experiência curiosa porque volta e meia me perguntava: "Ihh, gente, eu não tô gostando de Walt Whitman! E agora?" ou "O que essa gay quer dizer com estas listas de flores e com estas descrições intermináveis de árvores, grilos e gafanhotos?". Labutei durante meses para terminar o livro. As estratégias de leitura incluíam pausas entre uma parte e outra para que a distância suscitasse o desejo da volta. E para minha surpresa, ele sempre ap... leia mais

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Jenifer
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