Diarista compulsivo, Bertolt Brecht (1898-1956) começou cedo a encher páginas e páginas de cadernos com o registro de impressões, fatos, acontecimentos e reflexões relacionados com o seu dia-a-dia. Já em 1913, aos 15 anos, havia composto seu primeiro Tagebuch, cujos manuscritos, encontrados a década de 1980, foram publicados em fac-símile pela editora Suhrkamp em 1989. Dois outros diários seus foram editados na década de 1970: um relativo aos anos de 1920 a 1922 e o outro, este Arbeitsjournal (Diário de trabalho), como passou a ser denominado, que se inicia em julho de 19379 e se estende a julho de 1955. Ao contrário dos dois primeiros, escritos à mão, este Diário de trabalho foi todo escrito á máquina pelo próprio Brecht, em laudas avulsas, e sem o emprego de letras maiúsculas, salvo no caso de títulos e alguns nomes próprios.
Este diário de trabalho também dá conta das vicissitudes de um longo exílio. Adversário do regime nazista que se instala na Alemanha após a ascensão de Hitler ao poder em 1933, Brecht é forçado a se exila, acompanhado da mulher, a notável atriz Helene Wigel, e dos filhos Stefan e barbara. Primeiro na França e depois na Dinamarca, Suécia e Finlândia, de onde finalmente emigra para os Estados Unidos. Permanece na América até 19467, quando a caça ás bruxas desencadeada pelo marcathismo rechaça-o de lá. De novo na Europa, os Brechts passam algum tempo na Suíça e por fim se estabelecem em Berlim.
É oportuno assinalar que é no período compreendido neste primeiro volume (1938-1941) que Brecht planeja e escreve algumas de suas peças mais significativas. Basta mencionar “Mãe Coragem e seus filhos”, “Terror e miséria do Terceiro Reich”, “O Sr. Puntilla e seu criado Matti”, e “A alma boa de Sé-Tsuan”. Esta última, por sinal, é praticamente elaborada sob as vistas do leitor, tal a quantidade de notas a ela dedicadas.
Paralelamente, Brecht nos fala de sues companheiros de exílio, de sua família e d momento político vivido pela Europa. Suas antenas captam o sentido dos movimentos das nações que vão se enfrentar a partir de setembro de 1939, quanto tem início oficialmente a Segunda Guerra Mundial, e, embora distante do teatro da luta, seus comentários tocam sempre em pontos fundamentais, tornados claros para quem, como ele, pensa o mundo e a história dialeticamente.
Além disso, a inserção do diarista no tempo que passa é acentuada por uma iconografia montada no calor da hora e constituída de reportagens, crônicas, notícias, manchetes e fotografias recortadas de jornais e revistas e coladas nas laudas entre os textos.
Essas características fazem deste diário um documento extraordinário do século XX.