"Deuses Econômicos"
TOM ZÉ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Romance de Dyonelio Machado, que estudou por dez anos o cotidiano do Império Romano, sua medicina (Dyonelio era médico) e a incipiente religião cristã, então na ilegalidade, vista como ameaça pelo poder imperial e cada vez mais próxima do homem pobre, na Roma de Tibério e Nero e nas colônias -Grécia, Macedônia, Oriente Próximo.
A polícia imperial tem uma atuação semelhante à do Dops durante a ditadura brasileira, elegendo suspeitos, condenando, exterminando. Identificamo-nos com os personagens literariamente bem estruturados, reacionários ou revolucionários -o cristianismo é chamado de "revolução".
A propósito, Dyonelio foi posto para escanteio pelo Partido Comunista riograndense, injustiça que nos privou da experiência de vê-lo mais editado. Sua ficção não incorre no ranço sectário que eventualmente assola o esquerdismo, nacional ou não. Seu estilo flui, e como flui, com graça, humor e força: é como os olhos de Capitu, uma ressaca que arrasta o leitor, num encantamento que lhe preserva, porém, a acuidade crítica.
"Deuses Econômicos" é importante por sua visão histórica; mostra como os poderosos, temendo a religião aliada aos fracos, a oficializa, voltando-a contra os mesmos despossuídos.
Dyonelio, de quem "Os Ratos" e "O Louco do Cati" são títulos mais conhecidos, tem em "Deuses Econômicos" um texto que cativa por seu tecido literário e pela decifração das mazelas do mundo político de qualquer tempo.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1912200403.htm . Acessado em 13.11.2013.