Prefácio e tradução: Ruy Belo
Trecho da página 60:
Aqui e ali erguiam-se falsos profetas, que conseguiam juntar alguns adeptos. E os fiéis, embora raros, encontravam-se animados e prontos a morrer pelas suas crenças. Mas as crenças deles não valiam nada para os outros. E as crenças opunham-se todas umas às outras. Como só construíam igrejinhas, odiavam-se umas às outras, por terem o costume de tudo dividirem em erro e verdade. O que não é verdade é erro e o que não é erro é verdade. Mas eu, que sei perfeitamente que o erro não é contrário da verdade, mas sim um arranjo diferente, um outro templo construído com as mesmas pedras, nem mais verdadeiro nem mais falso, mas sim outro, ao descobrí-los dispostos a morrerem por verdades ilusórias, ate se me cortava o coração. E dizia para Deus: "Não podes ensinar-me uma verdade que domine todas as verdades particulares deles e as acolha todas no seu seio? Se, destas ervas que se devoram umas às outras, eu fizer uma árvore que uma alma única anime, então este ramo aproveitará da prosperidade do outro ramo e toda a árvore será apenas colaboração encantadora e expansão ao sol.
Não terei eu um coração bastante grande pra os conter?
Poemas, poesias