Os cangaceiros não contestavam o sistema, não praticavam a guerrilha, não representavam os oprimidos. Apaniguados com a polícia, de quem compravam boa parte de suas armas, representavam na realidade os interesses dos coronéis, funcionando como instrumentos de domínio e intimidação da população pobre nordestina. Em vez de guerrilha praticavam banditismo de controle social, numa região marcada pela questão fundiária e pela fome.
Antonio Silvino, Corisco, Lampião: a análise vigorosa de Júlio José Chiavenato transforma esses heróis populares da lenda em pobres homens famintos, impiedoramente descartados com o advento do Estado Novo e a alteração do quadro político. Porque, segundo Chiavenato, desde o descobrimento a solução oficial para a tensão social é a matança de pobres, começando com os massacres de índios, em seguida de escravos, passando por movimentos como a cabanagem e a balaiada, para culminar, nos dias que correm, com os assassinatos impunes da Baixada Fluminense.