Com esta obra de estreia (Salvador: Saga, 1946), ora em muito especial oportunidade de relançamento, Euclides Neto não apenas descreve as profundezas da vida rural no sul da Bahia como antecipa um fluxo contínuo de apontamentos de insuportáveis desigualdades nos jogos de cena capital versus trabalho que, ainda hoje, indignam, inviabilizam e desconcertam a harmonia e o equilíbrio social nas regiões agropastoris do Brasil. Já na capa do livro, sobreposta à ilustração da paisagem física, social e humana do campo, trecho de um romance em processo de escrita pelo protagonista antecipa os espectros temáticos de desencontros da obra: “Nasciam nas tarimbas, cresciam na lama, deixavam as forças nas roças, morriam à míngua. Eram enterrados nos cacaueiros”. O protagonista, Mário, é filho e herdeiro de fazendeiros de cacau. Estudante de direito em Salvador, retorna à ambiência da infância, refugiado para escrever um romance de que já tem prontos alguns capítulos e cujo estilo rivaliza com o que lhe narra a trajetória de retornado, já adulto, sobretudo na prosódia narrativa transparente, de períodos curtos e frase direta e enxuta.
Literatura Brasileira / Romance