Nunca fui uma criança que sonhasse em ser algo quando fosse grande. Por um lado, porque não sabia mesmo o que queria ser; por outro, porque raras vezes tive tempo de ser uma criança. O ambiente familiar disfuncional e a morte prematura dos meus pais obrigaram-me a ser um adulto, quando ainda mal era um adolescente. Este início de vida duro moldou-me e, assim creio, foi o responsável pela minha aproximação ao universo da ficção. Precisava de fugir da realidade e foi nos livros que encontrei o abrigo de que tanto necessitava. Não o pensei de forma consciente, porém estou certo de que pensamentos semelhantes a estes polvilharam o meu cérebro quando decidi cortar com as minhas raízes e partir à aventura para Lisboa.
O primeiro contacto foi quase um choque. Não só era uma cidade estranha, era também uma cidade única. E continua ser. Gosto muito do sítio onde nasci, mas sou incapaz de voltar. Demasiadas más memórias. Em Lisboa pude recomeçar. E fi-lo, mergulhando de novo na ficção; desta feita, não somente como leitor, mas como autor.
Ao fim de quase um ano de trabalho, consegui escrever o meu primeiro romance: Morte Inesperada, uma história tensa e violenta, com bastante acção. Publiquei-a em edição de autor e tive a sorte de um dos exemplares chegar às mãos de alguém das Edições Espiráleo que propôs republicar o livro sob a sua chancela.
A parceria correu bem e um ano depois publiquei o meu segundo romance: Câmara dos Horrores. Nesta obra, decidi manter a componente de suspense presente no livro anterior, mas resolvi também explorar o campo do terror e do fantástico. O público gostou e no ano seguinte publiquei o meu terceiro trabalho: O Derradeiro Mal. Ao contrário do livro anterior, que assentava muito nas (im)possibilidades do fantástico, este foi um trabalho com os pés mais assentes na terra; por ventura, um dos trabalhos mais pessoais que escreve até à data.
Um Cappuccino Vermelho, publicado em finais de 2002, é o meu último romance até à data. Por razões de ordem pessoal estive afastado da escrita por muito tempo. Cheguei a pensar que seria um afastamento temporário, mas nesse entretanto passou uma década.
Pois bem, é tempo de recuperar o tempo perdido e projectos não faltam. Esperem para ler.