Para serem socialmente úteis, os sistemas financeiros deveriam contribuir para a alocação eficiente de recursos na economia e para a promoção do investimento produtivo e da inovação técnica. O contexto recente, ainda sob os efeitos da crise financeira internacional eclodida em 2008, trouxe uma significativa oportunidade de discussão acerca da violenta instabilidade e dos riscos intrínsecos
ao funcionamento de mercados financeiros desregulamentados, liberalizados e com precários mecanismos de controles internos das
próprias instituições.
Escravos da lógica da acumulação especulativa, tendo-se tornado disfuncionais para a alocação eficiente de capitais, os sistemas financeiros podem causar grandes e graves danos às sociedades. É urgente aprofundar a reflexão sobre a rerregulamentação desses mercados cada vez mais complexos e sofisticados, e sobre o risco sistêmico potencial decorrente da atuação imprudente de gigantescos bancos universais. É imperioso repensar a componente pública da governança dos sistemas financeiros nacionais e global.
Nos países em desenvolvimento, em especial o Brasil, o contexto
reforçou os benefícios de se terem reguladores fortes (Banco Central
do Brasil e Comissão de Valores Mobiliários) e de se conciliarem
bancos públicos e privados na oferta de crédito anticíclico. Por seu turno, o momento enseja a oportunidade e a urgência de se promover uma agenda de desenvolvimento financeiro público e
privado hígido e adequadamente supervisionado.
Aproximarem-se os mercados de capitais e os sistemas de crédito
do papel de indução do investimento produtivo, superando o curto-prazismo e a inclinação às operações especulativas, embora pareça algo intuitivo, implica lidar com uma complexidade de aspectos fortemente relacionados, e em um ambiente de profundas transformações. Tais aspectos passam por questionar o papel das instituições reguladoras, dos bancos centrais, das organizações financeiras
multilaterais, das grandes instituições bancárias internacionais e dos bancos de desenvolvimento regionais, e os resultantes desequilíbrios de balanços de pagamentos internacionais.
Os desafios nessa direção são muitos. E este livro pode ser um importante ponto de partida neste debate crucial.
Luciano Coutinho
Presidente do BNDES