Se a arte no século XX tende a se internacionalizar, a questão de uma identidade cultural nacional continua presente, sobretudo em países americanos como o México e o Brasil. Aqui, o movimento modernista começa com uma indagação sobre o sentido da cultura brasileira, propondo a devoração antropofágica do pai europeu. Numa segunda fase, mais realista, procura retratar o povo em situações de trabalho, como nas obras de Portinari. A função contestadora da arte se alia ao poder. Nos anos 1950, o abstracionismo geométrico rompe com as representações tradicionais. O objeto de arte toma por modelo a industrialização e os mass-media. Mas com o neoconcretismo retorna a questão da expressividade e da intervenção do artista no mundo social. Para Hélio Oiticica, o sentido da obra exige a participação do público. Nos seus parangolés, o corpo do espectador se insere na estrutura da obra. Essa posição anárquica e “guerrilheira”, que desafia as táticas nacionalistas e populares das esquerdas, quer superar a dependência cultural não pelo fechamento, mas pelo confronto crítico com a cultura universal. Embora próximo de Ferreira Gullar, o teórico do neoconcretismo, Oiticica se diferencia por levar ao máximo as tensões entre o velho e o novo (o novo surge “inconscientemente”, diz ele). A proposta de sua tropicália é a transformação do indivíduo na atividade criativa. A obra de arte deve explorar os “fios soltos num campo de possibilidades” e só pode ser livre. Seu lugar é a transgressão e a margem.
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