José Marcelo Marques Ferreira Filho aborda neste livro, fruto de sua tese de doutorado, como os trabalhadores de engenhos de açúcar na Zona da Mata pernambucana foram, ao longo do século XX, privados de sua liberdade e confinados psicológica e espacialmente como partes da cadeia de produção da plantation açucareira. Com base em ampla pesquisa documental, o autor demonstra que, fora do alcance até mesmo do Estado, a classe trabalhadora da cana-de-açúcar esteve sob o jugo da maciça concentração de poder nas mãos da classe dominante, o que acarretou, além do isolamento espacial, a submissão a práticas cotidianas de violência física e psicológica. Em sua análise, o autor reflete, entre outros temas, sobre a comparação entre engenhos e campos de concentração, dialogando com as literaturas das mais variadas disciplinas que discutem a região e o conceito de plantation. Sua tese central é que apenas decompondo o espaço, os territórios e as paisagens – e levando em conta suas formas, funções, estruturas e processos – é possível compreender a história, as relações de poder e a dialética sociedade-natureza na plantation açucareira. Para compor seu quadro argumentativo, Ferreira Filho apoia-se em diversificada pesquisa de dados históricos que inclui fontes como mapas rodoviários do Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco, cartas da Sudene, documentação da Delegacia Regional do Trabalho, arquivos do movimento sindical, processos da Justiça do Trabalho e até mesmo prontuários médicos do Hospital Barão de Lucena, então conhecido como “Hospital das Usinas” por atender trabalhadores dos canaviais. Este livro aprofunda nosso entendimento sobre um sistema inumano, mas lastimavelmente atual, de organização do poder e do espaço.
História do Brasil