Aprendendo Português nas Escolas do Xingu

O livro "Aprendendo português nas escolas do Xingu - Livro I" foi organizado por Maria Cristina Troncarelli, Estela Würker e Susana Guimarães a partir de textos e desenhos produzidos pelos professores das 14 etnias do PIX e Panará, participantes do "Curso de Formação de Professores Indígenas do Parque Indígena do Xingu para o Magistério (2° Grau)", promovido pelo Instituto Socioambiental.
Os textos e desenhos do livro foram desenvolvidos pelos professores indígenas durante as aulas de Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa, uma das disciplinas do Curso de Formação de Professores.
Projeto
O Projeto de Formação de Professores Indígenas do Parque Indígena do Xingu para o Magistério tem como objetivo formar 50 professores indígenas dos povos Kuikuro, Kalapalo, Matipu, Nahukuá, Mehinaku, Waurá, Aweti, Kamaiurá, Trumai, Suyá, Kaiabi, Ikpeng, Yudjá, Yawalapiti e Panará, que lecionam atualmente para 880 alunos, entre crianças e adolescentes, em 30 escolas.
O Projeto de Formação teve início em 1994 com a Associação Vida e Ambiente, com apoio da Rainforest Foundation da Noruega. Em 1996 passou a ser gerenciado pelo Instituto Socioambiental. Até dezembro de 1999, onze cursos foram realizados. O Projeto se realiza através de dois cursos anuais ministrados por especialistas - educadores, linguistas e antropólogos - e de acompanhamento pedagógico às escolas indígenas nos períodos intermediários entre os cursos. O Projeto tem impulsionado o estudo das línguas indígenas faladas no Parque do Xingu e a produção de ortografias, que permitem o ensino da língua indígena nas escolas e a produção de material didático diferenciado. Até este momento, cinco livros foram impressos pelo Ministério da Educação: "Geografia Indígena", em 1996, "Tisakisu, em 1997, "Livro de História "e "Kamajura jemo etap", em 1998 e "Yudja kamena dju'a papera", em 1999).
O Projeto, reconhecido em 1998 pelo Conselho Estadual de Educação do Mato Grosso, inicialmente previsto para uma duração de seis anos (com idéia de prorrogação por mais dois anos), vem capacitando os professores indígenas como educadores e pesquisadores de suas culturas, de forma que eles se tornem os agentes do processo de ensino e aprendizado de suas escolas e sejam capazes de formular e conduzir currículos próprios, adaptados à sua realidade. Para isso, o Projeto tem investido no estudo, por parte dos professores indígenas, de suas línguas nativas e no desenvolvimento da escrita nessas línguas, de forma a garantir o uso da língua indígena ao longo de todo o processo educacional, como disciplina em si e como instrumento de ensino em todas as outras disciplinas do currículo escolar. Os conhecimentos indígenas são valorizados e os professores realizam pesquisas sobre histórias, canções, remédios, práticas tradicionais de manejo de recursos naturais, classificações da fauna e flora, etc. Temas como a preservação dos recursos naturais, melhoria de saúde e qualidade de vida, invasão de madeireiros, garimpeiros, pescadores e caçadores, alternativas econômicas e relacionamento com a sociedade envolvente, em especial a dos municípios vizinhos, têm sido tratados nos cursos visando uma integração da escola no cotidiano dos grupos indígenas do Parque do Xingu.
O Público alvo
O Parque Indígena do Xingu (PIX) abriga, em seus 2.642.003 hectares no estado de Mato Grosso, uma surpreendente variedade de grupos indígenas, diferenciados dos pontos de vista étnico, lingüístico e sócio-cultural. São quatorze povos, com uma população estimada em 3.500 pessoas, distribuídas em 32 aldeias.
Este livro será usado nas 30 escolas do Parque do Xingu, na Escola Panará (TI Panará) e na Escola da aldeia Cururuzinho (TI Kaiabi/PA). O livro também será enviado para escolas indígenas de outros povos que participam de projetos de formação similares e que manifestarem interesse em recebê-lo.

Educação / Pedagogia