A poesia possui um mérito que é também o esteio de sua própria angústia: libertar os nomes, ainda que sempre de forma temporária, da anestesia que a denotação diária lhes impõe. É a devassa da prepotência de todos os nomes que se insinuam próprios. Nesse sentido, o poema não se resume aos versos. Escorre para a mente e para a vida de quem se inicia na embriaguez dos símbolos. E denuncia o anonimato que é a pele de todas as coisas. Mas o que fazer, então, desse anonimato? Ora, ele acaba sendo a orfandade que liberta as palavras das filiações fixas. E que portanto abre o sentido para a grande floresta de heterônimos de que é feita a linguagem. Uma abertura que age como a forte chuva que renova as águas do rio, oxigenando o pensamento sem as fantasias da salvação. O anonimato e os heterônimos não largam as mãos. Nem nos dias de sol. E é nesse clima eternamente instável que navegam os poemas deste livro.