Anima Animalis

Anima Animalis Olga Savary


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Anima Animalis (Sentimento do Mundo #3)


Voz de Bichos Brasileiros: Poesia: Nove Hai-kais e um Poema Longo




UM BESTIÁRIO PÓS-MODERNO Prefácio de Christina Ramalho*

Um bicho salta das palavras, derrama seus mistérios em voz sucinta, metamorfoseia-se em línguas outras, faz-se gravura e volta ao habitat, ciente do roteiro cumprido. Surge novo bicho, mais outro, outro mais... e um híbrido bestiário pós-moderno se desenha ante nossos olhos, brasileiro, internacional, repleto de signos e senhas, convidando-nos ao passeio caleidoscópico entre asas, escamas, patas e pêlos. Presos nos gradis da vida, estamos nós a vê-los, enquanto eles, livres, desfilam, desafiam e se despedem. Eles são dez. Nós, muitos, multiplicados ainda mais pelo verbo que se faz verso em versões. Eles, todavia, possuem voz e imagem. Nós, quiçá tenhamos ouvidos e olhos para percebê-los.

Eis a ordem do desfile:

Beija-flor, ainda mais delicado nas vestes do hai-kai, sabe-se metáfora e esparge sobre nós vôos desejados.

Bode, humanamente, se debruça no espelho da mitologia e se vê fauno sedutor.

O cavalo, leitor de Quintana, põe em pauta a beleza e o poeta, num jogo de vice-versa, em que uma carta outrora lida motiva verso e conversa.

Jacaré tem palavra mais longa, como o desenho de seu corpo no mapa-múndi ancestral. Mas permanece no segredo de quem sabe nadar de costas em rio que tem piranha.

Lobo-guará, sul-americano desconfiado, fala de táticas e técnicas de quem sabe que sobreviver é uma ciência.

Peixe tem guelras sábias. Tanto faz: rio ou mar, a líquida estrada está lá.

Sapo conta sua sina de estar mais no encanto que na vida. Como nós, sempre esperando pelo beijo redentor.

Tamanduá desdenha a regra geral e exercita o direito a outras formas de desejo.

Touro, filósofo, conjuga tempo e pensamento no pasto da vida ruminante.

Urubu reveste a morte de vida no mais paradoxal dos vôos.

Liberdade, sedução, arte, mistério, ciência, adaptação, sonho, erotismo, pensamento, morte. E vida. Encerra-se o desfile. Presos, ainda, aos gradis, ficamos. Se quisermos. Porque a palavra liberta. Como disse Quintana, na carta já referida: “Que sobra então para a poesia? ― perguntarás. E eu te respondo que sobras tu”.

./...

Contou-me Olga Savary que a idéia do livro nasceu, em 1996, quando o gravador Marcelo Frazão a convidou para traduzir em texto imagens de animais que ele havia produzido usando as técnicas da gravura em xilo e metal. Os animais eram europeus. Olga, uma nacionalista ferrenha. Resultado? Conjugação de propósitos e este Anima Animalis – Voz de Bichos Brasileiros, em que versões em espanhol, finlandês, francês, inglês e italiano dos poemas de Savary expandem a brasilidade conquistada, gerando um livro “tipo exportação”, capaz, portanto, de, em tempos pós-modernos, levar este bestiário brasileiro a outras praças, a outros gradis. Ela, escritora que dispensa apresentações; ele, artista cujas obras conhecem o mundo, possuem a força necessária para mostrar (e até exportar) o que temos de melhor: a criatividade.

Nove hai-kais e um poema mais longo integram a obra e, como se esperaria de Olga Savary, dizem, na medida justa da metáfora lapidada pela concisão, que entre palavra, imagem e leitura há um templo onde se ancorar o pensamento em busca de sentidos sempre abertos, desde que haja o velho e conhecido desejo de ir além das clausuras do espaço e do tempo. Desde que haja emoção abrigando a poesia.

A harmonia entre a arte de Frazão e a de Savary reafirma que o pacto entre gravura e poesia é sempre um convite à ampliação do exercício de sentir.

Muito bom ver a guerreira Olga de volta ao livro, espaço onde morou e mora, mulher de palavra e de palavras.

_____________
*Christina Ramalho, doutora em semiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); escritora, ensaísta e professora de Teoria Literária da UFRN-Universidade Federal do Rio Grande do Norte; autora, entre outros, de Um espelho para Narciso – Reflexos de uma voz romântica (1999), Fênix e Harpia – Faces míticas da poesia e da poética de Ivan Junqueira (2005) e História da epopéia brasileira (2007).

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