A Inquisição é mais conhecida do leitor pelas chamas dos autos-de-fé, pelos cárceres secretos, pela tortura, pela intolerância religiosa. Mas esta máquina do medo carecia, como toda instituição repressiva, de seu corpo de policiais. É dele que trata o livro de Daniela Calainho, 'Agentes da fé'. No Brasil Colonial, muitos comerciantes buscaram o posto em proveito de seu ofício - isenções fiscais, prova de que não corria sangue judeu em suas veias, posição diferenciada nos negócios, prestígio e honra. Daniela Calainho nos mostra tudo isso, desvelando redes ocultas, sem as quais não se pode entender o que foi a Inquisição. Mas o livro nos mostra mais; homens que se forjaram de agentes para obter vantagens pessoais, agentes que extrapolaram suas atribuições para extorquir indivíduos, trapaças, perfídias; a confusão entre o público e o privado, típica do Antigo Regime e da vida colonial, atingia o extremo nesses casos. Examinando processos e regimentos, Daniela Calainho nos revela, em suma, o mundo silencioso dos agentes da Inquisição.