No ateliê da palavra imantada, céu de Gauguin, figos da Turquia, calêndulas. Há uma nudez que rosna nos afrescos, pimentas e pigmentos. Entre altinhas e estilhaços. Uma meninice que não se prende ao cárcere da mágoa e dribla as formas previstas, quiçá brinca com os cacos... uma sabedoria de quem se arrisca, ginga e convida o paradoxo para dançar. Você vem? Afinal, "mágico, palhaços e bailarinas se equilibram/ no pulsante desejo de estarmos sós".
A palavra silencia. E arranha. Doce-sublime-erótica. Vênus duas vezes recriada. Chama que escalda a carnadura do verso. A palavra cura. E aplaina. Organza, seda e plissados. Leve, macia e lépida. Inventário da canção que abraça, da estrofe que também é recomeço. Não se engane, na bússola de Moisés Guimarães, a rota é difusa, Le Bateau Îvre. Todo ser é errante e se (des)encontra nas frestas, com seus desenhos de luz. E seus matizes.
(Renata Cabral - Poeta e professora de Literatura em Belo Horizonte)
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