Esta tese perscruta a recepção da personagem Capitu do romance Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis, pela crítica-ficção machadiana elaborada em 1998. Trata-se do romance Capitu – memórias póstumas, de Domício Proença Filho. A investigação desenvolvida discute a problemática da noção de autor no âmbito da intertextualidade, enfatizando como, um século depois, as ressignificações da Capitu machadiana se conectam com as tendências estéticas e ideológicas do contexto finissecular novecentista. Nosso foco de interesse incide sobre a afirmação do casmurro-autor: “tudo se acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim podes também preencher as minhas” (MACHADO, 1991, p.57) e a substituição de tal personagem-escritor pela personagemescritora Capitu, no romance de Proença. Nossos esforços se concentram no sentido de pesquisar o modo como as questões da autoria, do leitor, da leitura e da paródia se interconectam, configurando a narrativa metaficcional de Machado e de Proença. Partimos do pressuposto de que o texto Capitu – memórias póstumas apresenta em seu corpus a sua própria problematização estética relacionada à interferência do ponto de vista nos fatos narrados, convidando-nos a repensar com ele a obra de ficção machadiana a partir da voz de Capitu e, consequentemente, a repensar Capitu como personagem. Com tal procedimento, sinaliza o âmbito da investigação teórica e crítica, percurso mais recorrente da ficção desde os fins do século XX.
Literatura Brasileira