A alma humana está longe de ver as ideias filosóficas como um anjo veria as formas platônica. Enquanto a inteligência angélica é pura, o homem pensa por meio de uma amálgama entre sensível e inteligível, primeiro percebe as coisas terrenas, depois transpõe a sua experiência sensível em palavras e, finalmente, pensa sobre os conceitos. O homem é incapaz de contemplar o Incondicionado diretamente, necessitando pensar por meio das imagens sensíveis. É por isso que Platão, para filosofar sobre a imortalidade da alma, sobre a justiça ou sobre o próprio conhecimento, faz uso de imagens poéticas: para figurar essas realidades e, assim, tocá-las. Mais ainda, ele compõe um diálogo, em cada personagem representa um ponto de vista específico sobre a questão, de modo que, ao ingressar na dinâmica do drama, o leitor seja conduzido a fazer sua própria síntese. Dando especial atenção à "República", Natália Sulman sugere que consideremos a obra de Platão deste ponto de vista, meditando sobre a unidade indivisível entre a sua forma e o seu conteúdo, e fazendo-nos ver nele, para além do grande filósofo, o poeta.
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