"...aí, de repente, recebo um convite para escrever a orelha do livro. Vem junto com escusas, por ter supostos ares de uma intimação.
Não o é: é um prazer. Traz a justificativa de que eu, há uns 30 anos, fui o primeiro a detectar que ela era uma contista feita (com propensão para o romance, por que não?). Naqueles tempos pré-e-mail e zap, morávamos em estados diferentes e nos dávamos o trabalho de escrever cartas, que levávamos ao correio três ou quatro vezes por semana (eu, ocasionalmente, até duas vezes num dia!). Era um dedicado e criativo exercício mútuo de escrita e troca de afetividades. E eu, que acabara de publicar meu primeiro livro e até já mordiscara uns prêmios literários, a incentivava a desenvolver seu talento e aventurar-se também na Literatura. Ela resistia.
Resistiu até agora, quando nos brinda - enfim! - com seu primeiro livro.
São contos que encantam, eivados de memórias, personagens misteriosos e envolventes, fluxos intermitentes de consciência e descrições minuciosas e sensíveis do que poucos olhos são capazes de ver. Uma escrita que já se apresenta madura, segura, com um estilo pessoal marcante e sedutor.
Dito isso, agora, faço eu o convite, como intimação: degustem!
(...que eu sigo aqui, honrado e todo besta, por assinar a orelha dessa obra que marca o nascimento tardio de uma potente escritora...)"
José Carlos Aragão
Contos / Ficção / Literatura Brasileira