O conto "A Muralha da China", de Franz Kafka, foi escrita em 1917, durante a construção da Muralha da China.
O conto é narrado sob a ótica de um dos construtores da muralha, que, acreditando em seu trabalho, crê se tratar de uma obra monumental que seria capaz de mobilizar toda uma população com o grande objetivo de defender o país contra os povos nômades do norte. Assim, o narrador tece detalhes da construção, descrevendo dados do método usado, os motivos determinantes, o recrutamento e tratamento dos trabalhadores. Fala de maneira caprichosa sobre sua vida, os dirigentes da obra, o poder político e o imperador da China.
Como a maioria de seus contos, Kafka apresenta uma espécie de narrativa circular, ou seja, não se percebe um progresso na história. Carregado de ambigüidades, o texto parece ser a própria construção, justamente por sua narrativa não linear. Outro aspecto interessante do texto é que Kafka rompe com o narrador onisciente, partindo do "herói" para projetar todo o mundo que circundará sua história.
Vale lembrar que "Kafka não hesitava em publicar segmentos de obras incompletas" (Antonio Candido), mas esse tipo de composição não é apenas um acidente de escrita, e sim, um estilo, um modo que adotava por corresponder à sua visão.
Ficção / Literatura Estrangeira