A múmia do rosto dourado do Rio de Janeiro

O que um livro de título tão inusitado reserva ao leitor? Para evitar possíveis mal-entendidos, melhor começar dizendo o que ele não é. Não se trata de uma obra de esoterismo egípcio, tampouco uma sátira da atual política fluminense. Menos ainda, de Garota de Ipanema revisitada. Esta é a história de Dmitri Vonizin e de seus duplos.

Russo de São Petersburgo, Vonizin chegou ao Brasil no início do século XX e, com o nome de Alberto Childe, ocupou por muitos anos o cargo de conservador-chefe da coleção de antiguidades do Museu Nacional.

A partir desse personagem real, de quem se sabe muito pouco, Fernando Monteiro construiu um falso romance-reportagem utilizando-se de velhos artigos de jornal, cartas, fragmentos de ensaios, conversas telefônicas, citações: pedaços de textos dispostos como faixas (ou rolos de filmes) sobre uma matéria antiga, que se vão sobrepondo até darem forma a um enigma.

Mas, ultrapassando os limites do verídico, e invertendo a polaridade do romance anterior (Aspades, ETs Etc), em que narra a história real de um homem fictício, o autor conta a história fictícia de um homem real, encantando os leitores com um romance de estrutura fragmentada e refinamento estilístico.