O barulho da serra elétrica corrói os nervos e consome a paciência da vizinhança. A obra no apartamento do térreo parece não ter fim, e a síndica decidiu viajar no pior momento. Há moradores prestes a perder o controle, não apenas por conta do zumbido metálico da máquina. São as engrenagens da vida urbana que apertam os caminhos até que a única solução seja um grito.
Dina aceitou morar em um apartamento tomado por mofo e cupins, depois de ficar meses presa por um crime que muita gente comete em segredo. Cezinho acumula toda a sorte de tralhas que encontra pela rua, mas isso não encobre o medo da solidão que ele mesmo construiu. Margareth quer aproveitar a liberdade que conquistou somente após a viuvez, ainda que o corpo se recuse a lhe dar mais tempo. Mara se considera uma especialista em fugir da violência urbana e, talvez, isso a desvie de seus próprios ímpetos violentos. Ricardo está disposto a apanhar para provar que não é apenas um homem molenga, contanto que isso lhe renda oito horas de sono. Nenhuma dessas pessoas imaginava quais eram os problemas do vizinho da serra elétrica.
A cidade empilha pessoas e isso nunca é uma boa ideia. Nessa noveleta, os dramas individuais são confrontados com a ilusão de privacidade com a qual cobrimos as janelas de nossas casas. Em alguma medida, um prédio é uma colônia de cúmplices.
Ficção