A moldura, seguido de Sônia: um ato por Tolstói

Nesta primeira publicação dramatúrgica, Thiago Sogayar Bechara inaugura um novo gênero; novo apenas em livro, uma vez que o teatro esteve sempre presente na vida e na carreira do poeta, biógrafo e contista paulistano. Em não sendo suas primeiras peças teatrais escritas, A moldura e Sônia: um ato por Tolstói são dois dos textos eleitos, pela representatividade que têm. O primeiro teve leitura dramática na sala Pascoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso, na capital paulista, com elenco do grupo de estudos de Regina Duarte, do qual Thiago fez parte. O segundo, um monólogo para a viúva do escritor russo vem recebendo estudos críticos da diretora Pamela Duncan e da atriz Imara Reis. Em ambas, prefácios e comentários de gente de teatro como o emblemático diretor e dramaturgo Naum Alves de Sousa, e das atrizes Ana Lucia Torre, Claudia Mello, Gabriela Alves e outras, marcam presença na edição, contextualizando a importância das obras. Abaixo, uma breve sinopse de cada uma:

A moldura:

Um quadro exposto ganha vida e dialoga com os passantes sobre a condição humana que ele descobre neste contato de estranhamento. Mas ele tem uma particularidade: não tem memória, não sabe que tem um passado e isso faz com que haja um problema de identidade. Este é o primeiro estranhamento entre ele e os visitantes da exposição. O Quadro não possui história (ao menos não se lembra dela). Absurdas, as personagens discorrem sobre questões essenciais sob o ponto de vista de alguém que está fora da humanidade e não consegue compreender porque não lembra, emoldurado num tipo de vida tediosa. Não sabe o que é tempo. Não compreende Deus. E vê-se que ele e seus visitantes são mais parecidos do que imaginavam: imagem invertida do homem mecanizado como um objeto, e o objeto humanizado do contemporâneo.

Sônia: um ato por Tolstói:

Preparando-se para receber uma homenagem póstuma feita ao marido, o grande escritor russo Liev Nikoláievitch Tolstói, a viúva Sófia Andreiêvna Behrs Tolstaia (Sônia) se debate contra as paredes de sua memória e acaba por revelar seu ponto de vista sobre um homem a respeito do qual o mundo inteiro pensava ter direitos. A grandiosidade e complexidade da personalidade de Liev Nikoláievitch; os conflitos e ambiguidades de sua vida conjugal; a falta de coerência que muitas vezes havia entre o que Tolstói pregou e o modo como agiu; o caráter mágico com que exerceu fascínio sobre todos por meio de seu pensamento e sua obra literária monumental; e ao mesmo tempo a extrema simplicidade com que se colocava no mundo, mas sobretudo o modo como sua profunda crise espiritual atingiu diretamente a esposa, alterando definitivamente a ordem vigente de sua vida cotidiana. São alguns dos temas que Sófia revive em cena, neste exercício de suposição ficcional do autor Thiago S. Bechara, ao fazer a personagem rememorar o passado compondo um panorama geral dessa história de vida paradigmática, tendo como outro eixo conflitantea fuga do marido em 1910, dias antes de morrer numa pequena estação de tremao 82 anos, alvo de uma atenção desmedida da imprensa, algo impensável até para os dias midiáticos e sensacionalistas de hoje. Um acerto de contas com a imagem de “megera” que a história lhe reservou, tendo como pano de fundo este verdadeiro reality-show em pleno alvorecer do século XX.

O livro teve seu lançamento na noite de sábado, 03 de Fevereiro de 2018, em conjunto com outra obra dramatúrgica do mesmo autor, As xícaras, seguido de Macacos falantes, no Teatro Garagem, da atriz Anette Naiman.

Drama